20 janeiro 2008

MERCÚRIO, UM PLANETA SEM CHARME

A propósito das espectaculares fotografias que a NASA tem vindo a obter do planeta Mercúrio, que estão a ser obtidas pela sonda Messenger, e que têm vindo a ser tratadas com alguma (bastante) discrição pela comunicação social, lembrei-me de um artigo (que já perdi) publicado há muitos anos numa revista científica, da autoria de um dos responsáveis pelo estudo daquele planeta, em que ele se queixava das enormes dificuldades em conseguir fazer lóbi junto da administração por fundos que fossem destinados às missões espaciais que investigassem o seu planeta.
Apesar de Mercúrio ser o segundo planeta do Sistema Solar que, em média, se encontra mais próximo do nosso, logo a seguir a Vénus, as suas características não têm nada da espectacularidade exótica venusiana, que tem uma atmosfera espessíssima, e temperaturas à superfície rondando os 400º a 500º Célsius, conjuntamente com uma pressão equivalente à de 90 atmosferas terrestres… Mercúrio é um planeta sem atmosfera significativa, cravado de crateras, para os leigos que vêm uma fotografia sua, parece uma espécie de Lua, só que um pouco maior… Veja-se a comparação na fotografia acima…
Naquele estilo, a Lua está-nos muito mais próxima e dos dois planetas interiores, Mercúrio, sendo o mais próximo do Sol, é o que nos está mais fora de mão. Nestes voos interplanetários mais económicos, em que se aproveitam os campos gravitacionais dos planetas intermediários para que as sondas adquiram maior velocidade, é mais vantajoso e frequente que uma sonda para Mercúrio passe por Vénus (como aconteceu com a Messenger) do que aconteça o contrário. Na realidade, este último cenário quase não existiu: a última sonda dirigida a Mercúrio antes desta, data de 1973
Mas o que falta sobretudo a Mercúrio, com a sua superfície a atingir as temperaturas extremas de 480º Célsius ao sol e de -180º Célsius à sombra, é a hipótese de acenar convictamente com aquilo que se tem revelado o Santo Graal da popularidade da investigação planetária: água. Seja na sua forma sólida, mas sempre na esperança do seu aparecimento na forma líquida – improvável, não nos esqueçamos que a água só se apresenta nessa forma entre os 0º e os 100º Célsius – Mercúrio não tem quaisquer condições de nos fazer sonhar como acontece com Marte ou com os satélites de Júpiter e Saturno

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