31 janeiro 2008

GIULIANI FLOP

O vencedor da competição do Salto em Altura nas competições de Atletismo dos Jogos Olímpicos de 1968, no México, surpreendeu igualmente espectadores e especialistas, ao utilizar uma técnica de salto desconhecida até então, apresentando-se de costas para a fasquia quando a transpunha. O estilo teve tanto sucesso, que hoje é utilizado por todos os atletas daquela especialidade e ficou com o nome do atleta que o inventou: Fosbury Flop.
40 anos depois, num acontecimento de dimensão mais restrita, mas igualmente muito mediatizado, um candidato à nomeação pelo seu partido como concorrente à disputa presidencial nos Estados Unidos, também resolveu surpreender espectadores e especialistas ao prescindir de concorrer, apesar da sua grande popularidade, às disputas preliminares para a eleição de delegados para a disputa daquela nomeação. Apareceria mais tarde…
A surpresa correu de tal maneira que o processo também se arrisca a ficar nos anais da história, neste caso da gestão das candidaturas presidenciais norte-americanas e da ciência política em geral, com um nome muito semelhante ao do estilo de salto mencionado mais acima, agora referido ao candidato em causa: Giuliani Flop. O sentido da palavra Flop é que é completamente distinto de um caso para outro*

* Em inglês a palavra flop tanto pode ter o sentido de salto (o primeiro significado), como o equivalente ao da palavra estouro em português (o segundo significado).

AS CORES DA MODA

Não foi assim há tanto tempo que o que estava na moda, vindo da Alemanha, era o Verde, o partido era a Die Grünen (Os Verdes), protagonizado por pessoas cativantes como Joschka Fischer (acima), que representava todo um percurso exótico e alternativo desde os idos anos loucos de 1968… Mas lendo quem costuma estar atento a essas modas, esses tempos parece que já foram, e embora Os Verdes continuem a sua disputa na politica alemã com bons resultados, a cor da nova estação é o Vermelho, o partido é a Die Linke (A Esquerda), e a figura, menos cativante mas mais coerente que Fischer, é a de Oskar Lafontaine (abaixo).
Há no parágrafo anterior um retrato de uma superficialidade exuberante, irónico, mas a verdade é que me parece excessiva a velocidade, com que o pessoal de certa esquerda de gola alta (e sem gravata...) passa, e ao contrário de Marco Paulo (que tinha dois), de um amor para outro… Melhor que isso, e aproveitando a vaga de fundo dos que reconhecem em Lafontaine o paladino da esquerda, de uma verdadeira esquerda, só mesmo os analistas especializados em analogias, que conseguem antecipar, sem o expressar directamente, como Manuel Alegre cá em Portugal é capaz de lhes seguir as pisadas.
Mas basta a consulta de um par de vídeos sobre a formação alemã, envolvendo não só Oskar Lafontaine, como também Gregor Gysi, o dirigente da outra metade da Die Linke, o PDS, a organização dos comunistas da antiga Alemanha Democrática (mais apreciado noutras paragens), para se perceber como o partido que resultasse dessa hipotética cisão do PS pela esquerda nada teria de semelhante com o alemão. A pose aristocrática e declamatória de Manuel Alegre, bem pode proclamar a esquerda e a liberdade a cada parágrafo, mas não se a imagina ao som da banda sonora da Internacional

30 janeiro 2008

O RACISMO, SEM COMPLEXOS DE INFERIORIDADE

Entre as cenas iniciais do filme Gandhi, há um episódio onde ele, jovem advogado e viajando na 1ª classe de um comboio sul-africano, se mostra genuinamente surpreendido pelas objecções de carácter racista colocadas por um dos seus companheiros de classe europeus e depois pelo revisor (também branco). Gandhi, recorda-se, acaba por ser expulso do comboio, atirado à força, mais a bagagem, para a plataforma da próxima estação…

Muitas das cenas posteriores desse filme contêm vários erros, alguns deles clamorosos, para satisfação das mensagens politicamente correctas e dos efeitos melodramáticos tão ao gosto das obras de Hollywood, mas esta cena será extremamente rigorosa e, mais do que isso, é simbólica do estado de espírito, até orgulhoso, com que as elites indianas a que Gandhi pertencia, encaravam naquela época(*) a sua condição de membros do Império Britânico.
De facto, os membros das castas indianas mais elevadas sempre se recusaram submeter-se ao estatuto subalterno para onde os europeus os queriam empurrar, nunca adquiriram complexos de inferioridade por causa isso, e existem até inúmeros exemplos do desdém com que eles encaravam terceiras raças. Até os mestiços e os kaffirs (**), que são menos avançados que nós, resistiram ao governo, escreveu Gandhi em 1906…

Claro que essa frase teria sido completamente imprópria para usar no filme, mostrando um Gandhi racista, maculando o herói santo que o resto do filme pretende construir… Mas, mesmo pensando pelos padrões rígidos de há 100 anos atrás, é argumentável que os indianos – por maioria de razão as suas castas elevadas… – e em mais do que um aspecto representassem uma civilização que se mostrava estar tão avançada quanto a europeia.
Veja-se como, mesmo ainda hoje e no campo das matemáticas, disciplina onde os trabalhos oriundos da civilização indiana se destacam nitidamente dos das suas homólogas, as realizações da Escola de Kerala são praticamente desconhecidas no Ocidente, muito embora a sua existência tivesse sido já contemporânea (entre o Século XIV e o XVII) à presença dos portugueses naquela mesma região do Sul da Índia.

E a excelência da investigação científica que ali se manteve pode ser comprovada com os Prémios Nobel da Física de 1930, Chandrasekhara Raman (1888-1970), ou de 1983, Subrahmanyan Chandrasekhar (1910-1995) ou a história de Srinivasa Ramanujan (1887-1920) . É mais do que coincidência que um grande centro de desenvolvimento actual de tecnologias de ponta se situe em Bangalore, também no Sul da Índia…
Foi só no final da Primeira Guerra Mundial (1919), que as elites indianas constataram que, mau grado o engajamento da Índia no conflito que terminara, os britânicos não faziam qualquer tenção de lhes conceder o regime de auto-governo que já fora concedido previamente aos Domínios controlados pelos europeus, como o Canadá (1867), a Austrália (1900), a Nova Zelândia (1907) ou a África do Sul (1910) e, posteriormente, à Irlanda (1922).

Só então apareceu o conflito anunciado e a história de (do filme de) Gandhi, depois de uma relação que fora benéfica para as duas partes mas que a partir dali passara a assentar num equívoco: as elites indianas consideravam que já não precisavam de tanto auxílio britânico para se governarem; e os britânicos achavam que os indianos eram escuros demais para se auto-governarem assim de imediato…
Mas como as pretensões de superioridade britânica nunca foram essencialmente levadas a sério pode perceber-se hoje numa série televisiva como Goodness, Gracious Me, protagonizada por indianos, onde eles parodiam descaradamente os tiques de paternalismo colonialista dos britânicos, invertendo os comportamentos: veja-se este sketch, onde um típico grupo de casais suburbano de Bombaim (***) vai jantar a um restaurante de cozinha… inglesa!?

(*) Finais do Século XIX.
(**) Expressão pejorativa e depreciativa africânder, usada para designar os negros na África do Sul.
(***) Simétrico àqueles que conhecemos tão bem do Algarve...

29 janeiro 2008

ANGOLA, ANATOMIA DE UMA TRAGÉDIA e outros livros sobre a descolonização angolana.

Por alturas do início das guerras de subversão nas colónias, lembro-me de ter ouvido a um oficial de marinha – já retirado na altura… – que proclamava que, devido às suas condições geográficas, o problema na Guiné quase se poderia resolver com o envio de um destroyer… Era um anacronismo doutras eras mas, de uma maneira menos estapafúrdia, este tipo de raciocínio tem permanecido sempre presente quando se abordam soluções para vencer as guerras subversivas que caracterizaram a história da segunda metade do Século XX: invocar o poder destrutivo da tecnologia!

E não será coincidência que costumem ser os militares dos ramos mais tecnológicos das Forças Armadas (Marinha e Força Aérea), que apareçam como os mais acérrimos defensores dessas teses. Por exemplo, no livro On Yankee Station, o autor, que conta a sua experiência como piloto da marinha norte-americana durante a Guerra do Vietname, nem pareceu ter compreendido a essência da guerra que se travou milhares de pés abaixo de si… Para ele, os aviadores embarcados venceram a guerra que lhes competia, quem a perdeu não terá sido a aviação da US Navy...
Este extenso preâmbulo destina-se a acautelar o interesse das narrativas sobre guerras subversivas quando vistas de longe, da perspectiva de um marinheiro ou de um aviador. A narrativa do General Silva Cardoso, autor do livro Angola, Anatomia de uma Tragédia, oficial piloto aviador (e, curiosamente, oriundo da Marinha…), na sua primeira parte, onde fala da sua experiência durante a Guerra Colonial, não foge a essa tradição: aquilo também era a guerra, mas o que ali está contado não são as partes interessantes nem importantes da Guerra Colonial…

Em contrapartida, o livro redime-se completamente com a sua segunda parte: o que aconteceu depois do 25 de Abril e os atribulados acontecimentos que conduziram à independência angolana a 11 de Novembro de 1975. Já havia lido Descolonização de Angola do General Pezarat Correia e A Vertigem da Descolonização do General Gonçalves Ribeiro e foi com relutância que comecei a ler este terceiro livro, receoso que se tornasse redundante com o que já lera. Estava enganado. É um outro vértice, que dá forma de triângulo a um polígono muito mais complexo…
Se da comparação entre os livros de Pezarat Correia e Gonçalves Ribeiro se consegue distinguir claramente a posição de quem alinhava com o MFA da de quem não alinhava com o MFA, da de quem valorizava a imparcialidade dos Acordos de Alvor, da de quem deles tinha uma interpretação mais livre, o de Silva Cardoso trata, dado o cargo de Alto-Comissário por si ocupado, da posição das pessoas do vértice superior da hierarquia (formal e informal...) do estado português durante o PREC. Que, como se descobre pela narrativa, e começando pelo próprio General Costa Gomes, Presidente da República e CEMGFA, às vezes mandava, noutras só se fazia obedecer e noutras ainda…, nem por isso.

Pelo próprio conteúdo do texto, e talvez paradoxalmente, dadas as posições hierárquicas desempenhadas à época dos acontecimentos, Silva Cardoso parece ser uma pessoa muito mais primária e emotiva do que aparentam ser os outros dois autores, cujos textos resultam muito mais amadurecidos, quer na redacção, quer nas conclusões. O antigo Alto-Comissário tanto engraçou (Gonçalves Ribeiro) como não engraçou (Pezarat Correia) com as pessoas que o acompanharam no cargo, mas as razões para as suas amizades e inimizades nem sempre parecem ser consequentes…
Parece que nem mesmo a frieza da distância de mais de 25 anos passados o conseguiu fazer distinguir as abordagens diferentes dos grupos representados na fotografia acima respectivamente por Melo Antunes, por Rosa Coutinho e pelos dois civis portugueses (Mário Soares e Almeida Santos). Todos eram por uma independência acelerada, todos nutriam mais simpatias pelo MPLA, mas estavam muito longe de constituir a frente unificada (e o 25 de Novembro demonstrou-o...) que, na coordenadora do MFA em Luanda e em Lisboa, Silva Cardoso culpa dos bloqueios e da evolução posterior dos acontecimentos.

É interessante e honesta a sua confissão de que, dada a situação, houve a intenção de armar a UNITA, para que esta agisse como elemento de coacção indirecta da parte portuguesa sobre os outros movimentos, intenção que foi bloqueada pelas facções do MFA... Como o é também o seu reconhecimento que a FNLA e a UNITA eram organizações paupérrimas em quadros qualificados, o que iria transformar a hipotética Angola independente e pró-Ocidental dirigida por esses movimentos num caos igual, senão provavelmente pior, daquele que se veio a viver sob a República Popular de Angola, proclamada pelo MPLA em 11 de Novembro de 1975...
Mas, se quem se opunha ao favorecimento do MPLA e defendesse o respeito estrito do Acordo (como Silva Cardoso e Gonçalves Ribeiro), parecem reconhecer essa consequência frágil da sua posição, quem teve a opinião precisamente oposta, não consegue responder a um outro problema: como se conseguiria compatibilizar aquilo que se consideravam os interesses estratégicos nacionais (um regime angolano que nos fosse culturalmente próximo, ainda que marxista-leninista), com os interesses estratégicos do bloco europeu onde nos inseríamos (NATO), que se mostravam totalmente antagónicos a essa solução…

Para os intervenientes da parte portuguesa que se mostravam ideologicamente engajados com o bloco soviético, como parecia ser o caso do grupo protagonizado por Rosa Coutinho, não houve qualquer contradição e assumem-no. Mas para os intervenientes que certamente analisaram o problema com uma outra profundidade (seriam os casos de Melo Antunes ou de Pezarat Correia), esse foi um dilema a que também nunca puderam dar resposta... Este livro reforçou-me a opinião que, mais do que não se ter conseguido fazer grande coisa que evitasse a tragédia, o caos político-militar era tal que nem se conseguiu assentar no que se deveria fazer…

28 janeiro 2008

O QUE DIZ MENDES BOTA

Não será preciso ser-se implacável, mas deve ser-se rigoroso, perguntando-nos, de quando em vez, pelo rigor de certa informação que nos é facultada. Exemplificadamente: quando o professor Freitas do Amaral foi eleito Presidente da Assembleia-Geral da ONU em 1995, as notícias apressavam-se a explicar-nos quanto aquele cargo era importante e a eleição prestigiante para o país. Mas, sendo o cargo assim tão importante, porque é que eu, e aposto que qualquer dos jornalistas que, na altura, dava a notícia, éramos incapazes de nomear três, dois, ao menos um, dos seus antecessores?...
É um raciocínio paralelo ao de cima que construo a respeito do discurso proferido no final de um jantar no Sábado passado, por um alegre deputado-poeta algarvio do PSD, de seu nome José Mendes Bota, que proferiu um chorrilho de disparates, desde comparar Sócrates a Salazar e a ASAE à PIDE… E a pergunta a fazer aqui é: alguém se lembra de mais algumas declarações recentes daquele distinto deputado? Então se o que ele diz normalmente, não tem seriedade para ter atenção e destaque na comunicação social, só passa a tê-las quando diz disparates?
A disputa política não tem inocentes, nem os discursos ou as obras poéticas de Mendes Bota mereceriam qualquer tipo de contemplações, mas há ocasiões em que as manobras de quem faz parte do aparelho governamental se tornam tão cristalinas, que se torna óbvio que, em vez de defender o governo, estão a fazer oposição… à oposição. Quem quer apostar comigo que, tal qual não sei qualquer dos nomes dos sucessores de Freitas do Amaral naquele tão alto cargo que ele ocupou, também não se vai ouvir falar mais de outras declarações de Mendes Bota, a não ser que sejam mais disparates?...

A despropósito e a destempo, mas por uma associação de ideias fácil de decifrar: Vitalino Canas não escreve poesia?...

ALGUMAS COISAS QUE DISTINGUEM A CHINA E A ÍNDIA

Embora apresentadas como as civilizações do futuro ou, pelo menos, rotineiramente nomeadas assim na inúmera bibliografia recentemente publicada que as emparelha a propósito e a despropósito, os dois grandes países estão geograficamente separados pela maior divisória natural do mundo: a cordilheira dos Himalaias. E, tendo ambas características estranhas para nós, ocidentais, as duas civilizações também têm imensas características que as distinguem entre si.

Apesar da proximidade, por causa da existência dos Himalaias, nunca se estabeleceram relações importantes entre os dois lados. E, no entanto, excepção que confirma a regra, uma das maiores religiões do mundo moderno, o budismo, atravessou-a, vinda do Sul, para se implantar no Norte – mas para ficar quase esquecida na região de onde é originária….
Olhando para um Mapa-Mundo, numa análise geográfica dos grandes acidentes do Globo, com reminiscências às de Mackinder, as duas civilizações, conjuntamente com a europeia/ocidental, constituem os vértices do enorme triângulo irregular formado pela Eurásia. Como se vê pela gravura acima são também as três grandes áreas de concentração populacional dessa grande massa continental.

Todas aquelas três civilizações apareceram inicialmente associadas a grandes rios (o Indo, o Amarelo e o Nilo). Mas a sua expansão posterior efectuou-se a ritmos distintos e para direcções distintas. No caso das duas civilizações asiáticas prevaleceu o sentido Norte-Sul. A europeia seguiu uma trajectória mais irregular, Sul-Norte, mas também Leste-Oeste, abraçando e contornando o Mediterrâneo. E das três, a que mais depressa terminou a cobertura do seu território e que, por isso, foi também a que, a esta grande escala, mais cedo projectou a sua influência civilizacional para territórios de ultramar (como a Malásia e a Indonésia) foi a civilização indiana.
A expansão europeia e a indiana assemelham-se na sua fase de consolidação interna, no predomínio de uma língua erudita (o grego e depois o latim na Europa, o sânscrito na Índia) usada e destinada às elites debaixo das quais havia uma heterogeneidade cultural, que nos acaba por escapar nos registos históricos formais (literatura, numismática, etc.). Embora tenham existido grandes impérios nos dois casos (como o Romano ou o de Asoka), essas estruturas foram excepcionais, não foram estes impérios centrais os grandes responsáveis pelas expansões ultramarinas. A expansão europeia começou na Península Ibérica, a sudoeste, e a indiana, que a precedeu, no que hoje é o estado indiano de Tamil Nadu, a sudeste.

Como diferenças entre elas, na sua fase de consolidação, há que realçar que a estrutura social indiana parece ter sido muito mais pacífica do que a europeia: ali a casta sacerdotal predomina sobre a guerreira, ao contrário da nobreza e do clero europeus. Se o Hinduísmo, com o seu panteão de deuses puder ser equiparado ao panteão greco-romano clássico, então a revolução do cristianismo triunfou onde a revolução budista fracassou – pelo menos no território indiano. Como contrapartida da prevalência do Hinduísmo, por causa do sistema das castas, a sociedade indiana está horizontalmente estratificada de uma forma tão rígida que lembra o das sociedades medievais europeias.
Em contraste, a China dispôs, na maior parte do tempo, de um poder político central, que orientou a colonização interna. Descendo de Norte para Sul, depois do Rio Amarelo (associado a Pequim), domesticou-se o Rio Yangtsé (a Xangai), depois o Rio das Pérolas (a Hong Kong). A 1500 anos de distância, a província de Cantão, no Sul, pode ter sido uma espécie de Califórnia chinesa, valha a analogia com a colonização do estado norte-americano do Pacífico no Século XIX. Ainda hoje, e apesar dos habitantes de cada uma das três cidades acima mencionadas (Pequim, Xangai e Hong-Kong) não conseguirem perceber o que diz um compatriota de qualquer uma das outras duas, existe neles um sentido de identidade comum muito mais profundo do que aquele que ligará um Punjabi a um Tamil na Índia, ou um Sueco a um Italiano (ainda menos). O reverso deste processo de colonização interna centralizado é a grande predisposição dos chineses para a aceitação de um regime autocrático (só comparável ao que acontece com a Rússia, que teve um processo de formação territorial interno com algumas semelhanças).

Marcadamente, embora por razões distintas, a China e a Índia têm uma capacidade de aceitação das assimetrias sociais resultantes de uma redistribuição desigual da riqueza que é impensável no Ocidente (talvez apenas na América Latina). Talvez daqui a 200 anos as consequências do Espírito das Luzes e da Revolução Francesa lá cheguem – ou então elas se percam por cá…
As grandes disputas civilizacionais locais entre China e Índia ir-se-ão travar (e já se travam...) no Nepal, na Birmânia, na Tailândia, no Sudoeste Asiático, na Indonésia Ocidental e na Malásia, mas também em regiões onde a influência ocidental é mais forte, como é o caso das Filipinas e, sobretudo, dos únicos países resultante do assentamento da diáspora europeia na Ásia: a Austrália e a Nova Zelândia.

Embora actualmente o Budismo seja uma religião que está associada à China, no passado foi a arma de evangelização da civilização indiana (a religião hinduísta, como acontece com o judaísmo, não é prosélita) para todo o Sudoeste Asiático. Hoje, são maioritariamente budistas países como a Birmânia, a Tailândia, toda a Indochina, assim como o foram, até ao século XVI, a Malásia e a Indonésia Ocidental (que depois se converteram ao Islamismo). Os alfabetos birmanês, tailandês ou cambojano (entre outros) derivam todos, de forma directa ou indirecta, do alfabeto original do sânscrito (devanagari).

Sendo dois países enormes (os dois maiores em termos populacionais) é evidente que dispõem de uma enorme capacidade de atracção (e também de repulsão...) em relação à vizinhança próxima. Pelos dados de 2003, a China e a sua vizinhança imediata* (que se costuma designar por Extremo Oriente) contariam com uns 1.600 milhões de habitantes. Por seu lado, na Índia e seus arredores** (habitualmente referidos como a Ásia Meridional) viveriam 1.460 milhões de habitantes. Em conjunto, está-se a falar de quase metade da humanidade...
Se a predominância chinesa e indiana em qualquer das duas grandes regiões é indiscutível em termos populacionais (a China representa 81% da população do Extremo Oriente e a Índia 73% da da Ásia Meridional), a distribuição do poder económico nas duas regiões é completamente distinta. A primeira está muito mais desenvolvida do que a segunda e, sobretudo, enquanto a China está rodeada na sua região por economias que são mais evoluídas que a sua (Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Hong-Kong... - a economia japonesa é mesmo 5 vezes maior que a chinesa!) e que a rebocam com os seus capitais, na Ásia Meridional, mais atrasada, é a própria Índia, apesar do valor do seu PIB ser metade do chinês, que constitui o motor do desenvolvimento económico regional. Também os vectores em que assentará o desenvolvimento futuro das economias dos dois países parecem diferenciar-se progressivamente cada vez mais...

Haveria muitos outros aspectos a realçar, nas distinções entre chineses e indianos, e destes com os europeus, mas há um traço de união entre as suas civilizações: nascidas dos grandes rios e da agricultura, trata-se de civilizações molhadas e sedentárias. Quase tudo nelas as afasta da muçulmana que, apesar de hoje ocupar o Crescente Fértil e o rio Indo, teve uma génese diferente, seca e nómada, e uma expansão conflituosa e rápida, desalojando as outras de locais que dominavam. Será uma das causas para alertar que os problemas do Islão para o futuro poderão ser muito mais fundos do que o radicalismo de Ossama Bin Laden?

* Japão, Vietname, Coreias do Norte e do Sul, Taiwan, Hong Kong, Mongólia e Macau.
** Paquistão, Bangladesh, Birmânia, Nepal, Sri Lanka, Butão e Maldivas.

27 janeiro 2008

A MÁXIMA DE CONSISTÊNCIA MÍNIMA

Desde Mário Soares que nem um político teve, até hoje, uma só ideia para Portugal.
Clara Ferreira Alves – Única

Podemos ser um país paupérrimo em executores mas, historicamente, nunca tivemos falta de quem tivesse uma ideia. Considero até que somos um país recheado de idiotas que, em vez de uma, têm várias ideias. Dizer aquilo que Clara Ferreira Alves disse, implica que não se fez um grande esforço na procura de quem, desde Soares, tivesse tido ideias de Portugal, para Portugal, com Portugal... Além disso, dizê-lo assim despudoradamente também levanta suspeitas quanto ao tipo de ideias para Portugal que se procuraram…

Esta é uma daquelas máximas que, por detrás da sonoridade aparente de máxima, nos demonstra quanto a sua consistência é mínima… À dimensão do intelecto da autora…

NÓS POR CÁ

Favaios é uma linda terra transmontana, conhecida nacionalmente e desde há muito pelo seu reputado moscatel e, desde anteontem, por ter um elemento muito mal preparado e, desconfia-se, não muito arguto, no quadro da sua corporação de bombeiros voluntários, a quem calhou ficar de serviço no quartel numa noite malfadada…
Desconfio que, não fosse a intenção de querer dar relevo noticioso especial a todos os incidentes que estejam associados às urgências (mas apenas às que acontecem em locais onde elas foram recentemente alteradas…), o episódio noticioso da conversa telefónica da operadora do INEM teria tido todo um outro tratamento televisivo…
Em vez da pompa de Rodrigo Guedes de Carvalho e Clara de Sousa mais os convidados em estúdio, teria aparecido Conceição Lino e um programa habitual intitulado Nós por cá, que se especializou em denunciar os nossos pequenos absurdos nacionais, como postes no meio da rua ou sinais de trânsito tapando semáforos…
Os postes e sinais costumam ser removidos passado pouco tempo da reportagem… O bombeiro de Favaios teria recebido uma descompostura… São os pequenos absurdos do nosso quotidiano português. Os grandes absurdos da notícia ficaram para depois, quando representantes de bombeiros e médicos quiseram responsabilizar o Ministro da Saúde pelo sucedido…
Mas não fiquem dúvidas que para o grande público o absurdo do poste no meio da rua é mais gráfico, passa melhor na televisão…

26 janeiro 2008

A VITÓRIA MILITAR...

A guerra pode estar a evoluir tecnologicamente cada vez mais,
…mas a assinatura formal de uma rendição que ponha fim a qualquer guerra…
…há-de ser sempre uma cerimónia de ordem unida, à boa maneira da infantaria…
…e deve contar com a presença de vencedores e vencidos…

Como costuma escrever um colega nosso de blogosfera, também para ele NUNCA É TARDE PARA APRENDER a empregar a expressão vitória militar com propriedade…

25 janeiro 2008

O FIM DO PRINCÍPIO?...

Now this is not the end. It is not even the beginning of the end.
But it is, perhaps, the end of the beginning.

Winston Churchill

As palavras foram proferidas pelo Primeiro-Ministro britânico durante a Segunda Guerra Mundial, comentando o impacto da vitória das suas Forças Armadas em El Alamein, no Norte de África (Outubro de 1942). Parece-me ser uma das formas mais subtis mas mais cautelosas de demonstrar que se atingiu um ponto de inflexão irreversível na tendência dos acontecimentos. No caso do curso daquela Guerra, foram palavras que vieram a tornar-se proféticas: até ali os britânicos quase só tinham acumulado derrotas militares; a partir daí quase só registaram sucessos.
Não terei a presciência de Churchill, posso estar a ser induzido em erro por convicções ideológicas, mas creio que os acontecimentos financeiros de impacto global dos dias que correm – reforçados pelas opiniões de pessoas que prezo, porque já demonstraram que sabem actuar, além de opinar – parecem-me que contêm indícios de elementos de mudança quanto à aceitação indiscutível da legitimidade conferida pela posse do capital na direcção da sociedade. Embora não se possa cair no exagero de querer ver em cada percalço destes os sinais do fim do capitalismo, qual retorno do Cristo salvador
Aquilo a que me refiro parece ser mais subtil, aparece-nos difusamente na forma abertamente intervencionista como o Estado português procurou solucionar o caso BCP, sem grandes protestos dos vários Portugais liberais*, ou na forma preocupada como a última edição da revista The Economist alerta para a fragilidade em que grande parte do sistema bancário norte-americano actualmente se encontra, à mercê das injecções de capital dos Fundos Soberanos que, conforme se pode ver pelas bandeiras da capa acima, têm a deficiência notável de nem todos obedecerem a soberanias tradicionamente respeitáveis…
Esses indícios de desrespeito pelas regras do mercado, de falta de reverência pela legitimidade dos detentores do capital, podem despontar ainda em sítios ainda mais improváveis, que são insuspeitos de motivações ideológicas. Podem ser os cartazes dos adeptos do Liverpool que, como se pode ver na fotografia acima, se querem ver livres dos patrões norte-americanos do clube e trocá-los por um daqueles Fundos Soberanos, de um dos Emiratos Árabes (Dubai), independentemente dos primeiros não se mostrarem interessados em ceder a sua posição.
Ora contestar descaradamente as autoridades patronais, era coisa que blogues típicos desta última geração do liberalismo iam buscar às vetustas imagens de arquivo da RTP no PREC, mostrando um tempo que parecia haver já sido esquecido, em que o poder económico tinha que ter cuidado com o poder político... Não são esses tempos que voltarão, mas para o liberalismo, a globalização inexorável** e toda a ideologia que lhe está associada, disfarçada de leis económicas irrefutáveis, parafraseando Churchill, esta fase que atravessamos pode não ser o fim, pode não ser até o principio do fim, mas bem pode ser o fim do princípio…

* O Compromisso, o Positivo, enfim esses...
** Também as nacionalizações eram irreversíveis

24 janeiro 2008

GWADAR – O PORTO NO UMBIGO DA ÁSIA

Quem gosta de prestar atenção às minudências da História sabe que, no meio do gigantesco Império Britânico das Índias, também existiam algumas pequenas possessões de outras potências europeias, vestígios de outras épocas, como eram os casos da Índia Portuguesa com Goa, Damão e Diu (4.300 Km²) ou da Índia Francesa com Pondicherry, Mahé e Yanaon (500 Km²). O que é muito menos conhecido é que havia ainda um outro desses pequenos territórios (800 Km²), dominado por uma outra potência colonial: era o porto de Gwadar, que pertencia ao Sultanato de Oman...
Já aqui tive oportunidade de falar da saga do Império comercial de Oman que, durante o Século XVI e a primeira metade do Século XVII esteve integrado no Império português da Ásia. Como se pode observar no mapa acima, Gwadar era, com Mascate e Oman do lado da Península Arábica, um dos três portos que desenhavam o triângulo que podia controlar completamente o tráfego no Golfo de Oman e, dessa forma, também o acesso ao Golfo Pérsico. As razões para Gwadar estar assinalado no lado direito do mapa com uma seta e comentários em chinês (!), perceber-se-á mais adiante neste poste
Gwadar foi descolonizado e devolvido ao país que o rodeava (o Paquistão) em 1958. A região que o cerca é praticamente deserta – atravessá-la foi uma das fases mais difíceis da retirada dos exércitos de Alexandre Magno depois de terem conquistado a Índia – e a província paquistanesa a que pertence (Baluchistão) não é propriamente conhecida pela sua vocação marítima… O porto do Paquistão onde se concentra o seu comércio externo é, e sempre foi, o de Karachi*. Até que uma confluência de interesses se juntou para criar um enorme porto em Gwadar.
Em primeiro lugar, comparativamente pequeno mas relevante, existe o interesse de Oman em exercer a sua influência na região onde se situa a sua ex-colónia, como acontece com qualquer antigo colonizador. Noutras perspectivas, muito maiores, Gwadar é o mítico porto de águas quentes que o imperialismo russo sempre desejou ter na Ásia a que o imperialismo britânico (e depois o norte-americano) sempre se opôs. Só que agora é do interesse dessas outras potências mundiais que as cinco repúblicas da Ásia Central** consigam ter novos canais de comércio externo, alternativos aos que existiam do tempo da URSS.
Mas o maior investidor no projecto de construção das enormes instalações portuárias de Gwadar tem sido a China (daí a legenda do mapa…), procurando criar uma rota alternativa para o seu comércio com os países do Médio Oriente e da Costa Oriental de África, que lhe permita, em caso de necessidade, contornar as regiões do Oceano Índico que a Índia considera estarem sob a sua esfera de influência. As experiências do passado demonstraram que, nessas circunstâncias, Karachi se encontra perigosamente próximo da Índia e que a armada paquistanesa não é rival para a frota aeronaval indiana.
Curiosamente, onde se nota um entusiasmo mais moderado em relação ao projecto de Gwadar é nalguns círculos paquistaneses: o novo porto conferirá ao Baluchistão um potencial estratégico acrescido, que não será nada bem-vindo por algumas partes, dentro dos periclitantes equilíbrios internos que actualmente sustentam o Paquistão… Para terminar, e para variar dos tradicionais artigos estrangeiros, é com outro gosto que aqui se recomenda o artigo a respeito do porto de Gwadar do Major Manuel Carriço, publicado na Revista Militar de Setembro de 2007.

* Tecnicamente, existe um segundo porto paquistanês (Qasim), que dista uns meros 50 Km do de Karachi.
** Cazaquistão, Turquemenistão, Quirguízia, Tajiquistão e Uzbequistão, para além do próprio Afeganistão, onde presentemente se encontram as forças da NATO.

23 janeiro 2008

O IMPORTANTE E O URGENTE*

Este poste era originalmente apenas um comentário a um outro (que pode ser lido aqui), onde se comparam as infra-estruturas sanitárias da província galega de Orense com a dos dois distritos fronteiros portugueses, Vila Real e Bragança, sensivelmente da mesma dimensão geográfica e populacional. Assim, à primeira vista e mantendo a simplicidade de análise do referido poste, a grande conclusão que dali se pode tirar é que, para manter uma rede com uma malha tão mais apertada da que existe do nosso lado da fronteira, é evidente que a Espanha dispõe de uma riqueza de quadros técnicos na área da saúde que não tem qualquer correspondência com o que acontece em Portugal. Isso parece ser tanto mais verdadeiro quanto sabemos quanto médicos e enfermeiros que sobram em Espanha têm conseguido obter com facilidade colocações e formação complementar em estabelecimentos portugueses.
E a situação torna-se ainda mais absurda quando se sabe que, no passado, houve imensos cidadãos portugueses que, tendo a ambição de adquirirem formação superior em áreas ligadas à medicina, não o terem podido fazer por causa dos elevados critérios de admissão (numerus clausus)**, apesar de haver capacidade instalada nas faculdades para os formar. Alguns que puderam, paradoxalmente, acabaram por ter de o fazer em… Espanha. Este foi um enorme erro técnico e político perpetuado durante duas décadas a fio e que tem muitos mais responsáveis do que o actual ministro Correia de Campos, a começar pelos seus promotores mais activos, onde se contam os sucessivos antecessores do actual bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, que ultimamente se tornou uma verdadeira revelação como subscritor destacado de um abaixo assinado pela preservação do SNS…
Mas a escassez de médicos e enfermeiros portugueses durante todo uma geração foi o tipo de asneira nacional que, lesando-nos globalmente a todos, não lesou especificamente ninguém, e que teve imensos responsáveis pela sua implementação e manutenção, o que seria capaz de se revelar politicamente embaraçoso se alguma força política se propusesse explorar o assunto a fundo. É o contrário do que acontece com esta reorganização das urgências que foi concebida primordialmente (apesar dos outros objectivos onde acredito que exista a preocupação com a manutenção da qualidade do atendimento) para cortar nas despesas… E, já se sabe da regra da contabilidade que, para cortar em despesas, isso implica que se corte nas receitas de alguém… Apure-se quem está e virá a sofrer com esse corte nas receitas e suspeito que se perceberá facilmente quem tem interesse em dar tanto eco à indignação das populações
Para se perceber quanto se torna fácil organizar, encenar e dar destaque a manifestações daquele tipo, aprecie-se como em Espanha, as populações, que não têm de se queixar com o fecho das urgências, andam também indignadas, mas porque querem Mariluz, a criança que desapareceu em Huelva no meio deste mês… Para indignação, parece-me uma causa mais sã. Pelo menos, não lhe descubro as várias motivações hipócritas por detrás da das urgências

* O título do poste é uma alusão a uma das máximas da gestão de empresas que estabelece que aquilo que é importante numa organização nunca costuma ser urgente, e aquilo que se apresenta como urgente, raramente é importante, e como se costumam – como acontece neste caso – confundir as duas coisas.
** A invocação da restrição do número de alunos admitidos para cursos do ensino superior só pode ser justificada por falta de condições de ensino (improvável, uma vez que houve cursos anteriores com muito mais admissões...) ou pela prevenção da existência de quadros em excesso. A situação actual em que é apreciável o número de médicos e enfermeiros formados no exterior a trabalhar em Portugal demonstra, para além de quaisquer dúvidas, que muita gente se enganou escabrosamente a fazer contas naquela altura...

22 janeiro 2008

A AUDIÊNCIA E A INFLUÊNCIA

Estou para descobrir qual será a parcela de audiência e qual será a verdadeira parcela de influência de Marcelo Rebelo de Sousa nas suas intervenções semanais de Domingo à noite. Conheço quem não perca e quem apenas veja, quem o ouça com a atitude de quem assiste a um espectáculo de Luís de Matos e quem confesse não acreditar em nada do que ele diz mas afinal acredite, e di-lo apenas porque está in não dar confiança a Marcelo em público...
No último Domingo, segui Marcelo com atenção enquanto ele desmontava Correia de Campos: as pessoas, instintivamente, prefeririam ter um médico ao pé da porta, embora houvesse razões científicas para justificar como esse instinto se enganava, mas afinal o problema principal do ministro é que ele não explicava a sua política de saúde e, quando explicava, explicava a reboque dos acontecimentos, e assim perdera definitivamente toda a credibilidade...
Este convívio continuado com Marcelo começa a desenvolver-nos cumplicidades e reconhecimentos de padrões. Embora Marcelo não se ensaie nada em se meter em explicações técnicas sobre qualquer assunto (ainda não o ouvi falar sobre física nuclear, mas não perdi a esperança…), o problema destas questões em que o titular da pasta é mais reputado tecnicamente costuma vir a ser sempre atribuído à insuficiência das explicações…
Fica a sensação que, tivesse havido a oportunidade, num hipotético governo de Marcelo tudo teria sido muito bem explicadinho. Não teria havido oportunidades para esses erros políticos da falta de explicações, de que acusou Correia de Campos. Basta lembrar a audiência alcançada pelas próprias explicações de Marcelo Rebelo de Sousa a propósito do último referendo sobre a despenalização do aborto, e do sucesso registado…mas por Ricardo Araújo Pereira.