31 dezembro 2007

O ARRANJO FLORAL DE VITAL

Tinha que ser Vital Moreira (Who else? como no Nespresso…) a pegar num artigo saído no Diário de Notícias*, a respeito dos planos de contingência que o Tratado de Lisboa contém para que ele seja aprovado mesmo que algo corra mal, para depois o comentar num poste no seu blogue intitulado Não é bem assim
Lendo o poste acaba por perceber-se que é mesmo bem assim, tal qual a informação constante do artigo, e apenas se refuta o que nele se deixa entender, mas que nem sequer está escrito… O resto do poste, acrescentando pormenores supérfluos, parecem as folhas que enchem os espaços entre as flores nos arranjos florais… E depois, é Scolari que pergunta se o burro é ele, e é Marcelo que é acusado de fazer figura de palhaço… Que lugar se poderá reservar para Vital Moreira nessa espécie de circo para onde nos querem levar, às vezes, estas figuras mediáticas quando se mostram tão ansiosas de protagonismo?...

* Assinado por João Pedro Henriques.

A POLÍTICA, ASSUNTO DE FAMÍLIA

Como de certa forma antecipei, apesar dos seus 19 anos, o filho de Benazir Bhutto, Bilawal, foi indicado para suceder à mãe à frente do Partido Popular do Paquistão (PPP). Não foi previsão arriscada de fazer. Em quase todos os despachos das agências noticiosas, divulgados imediatamente a seguir ao seu assassinato, devidamente transpostos como obituários para os vários órgãos da comunicação social e também afixados por alguns blogues aqui na blogosfera da mesma forma igualmente acrítica, se refere como Benazir Bhutto herdara o lugar do pai e se havia tornado a primeira mulher a governar um país muçulmano (1988).
É verdade, mas será daquelas verdades elementares, porque terá sido muito mais importante a antropologia prevalecente no subcontinente indiano para que Benazir tivesse alcançado aqueles lugares. Ali, a política é negócio de família, onde nem sequer existe discriminação dos sexos. É que, para além de Benazir Bhutto, entre os países mais próximos do Paquistão contam-se as seguintes antigas chefes de governo e/ou líderes políticas: Indira Gandhi e a sua nora, Sónia Gandhi, na Índia, Khaleda Zia e a sua grande rival, a Sheik Hasina, no Bangladesh, Sirimavo Bandaranaike e a sua filha, Chandrika Kumaratunga, no Sri Lanka*.
Mas, para quem pense em elaborar considerações sobre o elevado estatuto gozado pela mulher indiana, saiba-se que em todos os casos mencionados acima se tratou ou de viúvas ou de filhas de políticos predominantes**, que receberam os seus cargos por herança, embora haja que reconhecer – como aconteceu, de resto, com Benazir – que houve casos em que as filhas passaram à frente de filhos menos vocacionados para a actividade política. Mas não há ali histórias de mulheres de ferro, cuja ascensão na carreira política foi feita a pulso, como os casos de Golda Meir em Israel ou de Margaret Thatcher no Reino Unido…
Mudando radicalmente de assunto, mas ainda associado às superficialidades que por aí li escritas a respeito deste mesmo assunto do assassinato de Benazir Bhutto, é engraçado ler as considerações de José Pacheco Pereira sobre a mediocridade da blogosfera portuguesa… Ele e outros com a mesma visibilidade dele, parecem que estão habituados, enquanto cronistas de jornal, comentadores na rádio ou na televisão, à impunidade das trivialidades e ocasionais erros do que escrevem ou dizem, enquanto a blogosfera possui aquele enorme inconveniente de nivelar a produção de tais excelências democraticamente com o resto do meio que os cerca… Será que é isso que tanto o(s) incomoda?
* Numa perspectiva do subcontinente indiano, a pioneira a assumir a chefia do governo foi Sirimavo Bandaranaike no Sri Lanka, logo em 1960 (o primeiro caso no mundo), depois foi Indira Gandhi na Índia (em 1966), só depois foi Benazir Bhutto no Paquistão (1988), a preceder de muito pouco (1991) Khaleda Zia, no Bangladesh, outro grande país muçulmano. É essa a ordem das fotografias do poste.
** Que, normalmente, faleceram de morte violenta…

30 dezembro 2007

A «COESÃO» PAQUISTANESA

De uma forma assaz simplificada, podem existir duas formas de funcionamento de estados multinacionais, conforme seja a distribuição relativa interna das nacionalidades. Há um modelo maioritário, como acontecia com o Império Russo e depois com a União Soviética, onde uma das nacionalidades (nesse caso, a russa) constituía mais de metade da população. E há um modelo minoritário, onde nenhuma nacionalidade tem a capacidade de gerir o estado sozinha, tendo que se fazer uma espécie de coligação entre nacionalidades. O exemplo mais típico deste segundo caso foi o Império Austro-húngaro.
Os exemplos históricos apontados mostram como qualquer dos dois modelos pode ser funcional. Os exemplos de estados multinacionais intrinsecamente mais frágeis resultam de distribuições onde, ao contrário do modelo minoritário, as nacionalidades não estão suficientemente pulverizadas para as forçar a coligarem-se com outras, nem existe uma concentração suficiente de uma delas, como no modelo maioritário, que a torne a líder indisputada do estado multinacional. Por muito simplificada que seja esta análise, reconheça-se que ela se aplicava ao caso da Jugoslávia e agora aplica-se ao caso do Paquistão.
Como acontecia com os sérvios, entre a população paquistanesa os punjabis são o maior grupo nacional e quase metade da população (44%). Mas, assim como na Jugoslávia, o Marechal Tito era croata, também no Paquistão o General Musharraf é mohajir e o projecto da recém-assassinada Benazir Bhutto (que era sindi), envolvia a formação de uma ampla coligação eleitoral que permitisse derrotar a Liga Muçulmana Paquistanesa de Nawaz Sharif, cujo bastião é, precisamente, o Punjab. Mas a situação das nacionalidades paquistanesas é, se possível, ainda mais complexa do que a que se apresentava na Jugoslávia…
É que algumas das nacionalidades paquistanesas transbordam as suas fronteiras para os países vizinhos. Assim há baluches em número significativo no Paquistão Ocidental e também no Irão Oriental e tem sido repetidamente referido, a propósito da guerra levada a cabo contra os talibans, a coexistência de pashtuns (a nacionalidade predominante no seu recrutamento) tanto no Afeganistão, como no Paquistão. O que é muito menos conhecido é que também a nacionalidade punjabi se distribui pelo Paquistão e pela Índia*. Aliás, curiosamente, o primeiro-ministro indiano actual, Manmohan Singh, também é um punjabi…

Curiosamente, em qualquer dos três casos apontados acima (baluches, pashtuns e punjabis), a proporção entre os nacionais paquistaneses e os do país vizinho é sensivelmente a mesma: 2 paquistaneses para 1 estrangeiro. A escala dos seus efectivos é que é completamente distinta, dado que há aproximadamente 100 milhões de punjabis, 40 milhões de pashtuns e apenas 10 milhões de baluches. Decididamente, pensando nos antecedentes jugoslavos e nas suas sequelas, algumas delas ainda agora longe da resolução (como é o caso do Kosovo), pensar na evolução da situação paquistanesa só pode ser causa de apreensão…

* Uma das famílias do filme indiano Casamento debaixo de Chuva (Monsoon Wedding) é de origem punjabi e, além do inglês e do hindi, alguns diálogos são travados nesse idioma.

29 dezembro 2007

O ÚLTIMO DOS MOHAJIRS

O Hawkeye desta história chama-se Pervez Musharraf e está a atravessar um grande mau bocado porque não se consegue livrar das suspeitas de que tenha estado por detrás do atentado que vitimou Benazir Bhutto. Quanto à designação de mohajir, ela começou por aplicar-se àqueles muçulmanos que, residindo em regiões que vieram a fazer parte da Índia por altura da independência e da partição de 1947, abandonaram os locais onde residiam para se virem estabelecer em territórios que passariam a fazer parte do novo Paquistão.

Houve muitos milhões envolvidos nesse enorme fluxo de refugiados, que fluíam em sentidos cruzados (também havia hindus* e sikhs** que abandonavam as regiões do futuro Paquistão para se estabelecerem na Índia) e, no caso do Paquistão, as suas características comuns acabaram por fazer deles, e dos seus descendentes, mais um grupo cultural distinto dentro da nova nação que então se formava. São conhecidos por mohajirs - a palavra original é árabe e significa migrante – e distinguem-se pelo facto de usarem o urdu, que é idioma oficial do Paquistão.
Os mohajirs e seus descendentes, que representam uma minoria (estimada entre os 4 e os 7%) entre a população total do Paquistão, têm, todavia, uma participação desmesurada para os seus números, no processo de construção do Paquistão. Desde o fundador do país, considerado O Pai da Nação, Mohammad Ali Jinnah*** (abaixo), ao seu primeiro primeiro-ministro Liaquat Ali Khan, estendendo-se inicialmente a uma ampla maioria dos funcionários civis e do corpo de oficiais do novo exército paquistanês. Em 1947, as elites do Paquistão vieram quase todas da Índia.

A interferência histórica dos militares na vida política paquistanesa prolongou o destaque desproporcionado dos mohajirs nela. Dadas as tensões culturais das várias nações existentes dentro do Paquistão, os mohajirs arrogaram-se um certo direito de serem os intérpretes privilegiados de quais serão os factores de identidade nacional. É um problema paquistanês, velho de 60 anos, porque, para além da religião muçulmana, pouco mais parece existir de afirmativo naquele conjunto: o resto só faz sentido se equacionado como oposição ou alternativa à Índia…
Por exemplo, Muhammad Zia-Ul-Haq (abaixo), o general que derrubou e fez executar Zulfikar Ali Bhutto quando se tornou presidente do Paquistão (1977-88) era um mohajir que nascera em 1924 no Punjabe Oriental (que ficou a fazer parte da Índia), assim como também o era o seu sucessor à frente das Forças Armadas (na sequência da morte súbita de Zia-Ul-Haq), Mirza Aslan Beg. A nomeação de um outro mohajir chamado Pervez Musharraf em 1998, para ficar à frente das Forças Armadas paquistanesas não foi, portanto, propriamente uma novidade…

Só que o tempo passa, e as leis da vida, inexoráveis, estão a fazer desaparecer os verdadeiros mohajirs: Musharraf nasceu já em 1943, em Deli, a capital da Índia, e tinha apenas 4 anos por altura da partição e das independências. Agora, a designação de mohajir está a transferir-se para aqueles, como é o caso de Shaukat Aziz, que foi primeiro-ministro entre 2004 até ao mês passado e que já nasceu em 1949, mas em Karachi, para os descendentes daqueles que, originalmente, se arrogavam a superioridade moral de terem sofrido os desconfortos de terem escolhido a sua nacionalidade…
Não deixa de ser simbólico que aquele que é reconhecido como o pai da bomba atómica paquistanesa (Abdul Qadeer Khan) seja um desses últimos mohajirs genuínos, nascido em Bhopal e cuja família emigrou, quando ele tinha 16 anos, para o Paquistão… Ao longo das décadas, muitas das famílias mohajirs acabaram por se integrar bem nas sociedades dos locais onde se estabeleceram. Noutros casos, essas famílias estiveram na base da explosão urbana que o Paquistão registou depois da independência. É o caso de Karachi, a capital económica do Paquistão e bastião dos novos mohajirs.

Mas a expressão perdeu quase todo o conteúdo político distinto que conteve durante o primeiro meio século da História do Paquistão e trata-se cada vez mais de uma designação aplicável a mais uma nação de um país composto por várias (punjabis, pashtuns, sindis, baluches,...) e que parece não conseguir descortinar razões válidas para assim permanecer, a não ser uma regra precautória, estabelecida pela comunidade internacional, que estabelece que, ao contrário do que aconteceu à Jugoslávia, os países com armamento nuclear não se podem desagregar… * Foi o caso da família do economista indiano Amartya Sen (vencedor do Prémio Nobel de 1998), que vivia em Bengala Oriental (hoje, Bangladesh)
** Foi o caso da família do actual primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, que vivia no Noroeste do Punjabe.
*** Embora Jinnah não fosse, tecnicamente, um mohajir, porque nascera em Karachi, pertencia a uma família de origem gujarati (e o Gujarate ficara a pertencer à Índia) e morara, desde há décadas, em Bombaim (que também ficara a pertencer à Índia).

28 dezembro 2007

A PROPÓSITO DA MORTE DE BENAZIR BHUTTO

Deu-se a circunstância de, na véspera do dia do atentado, aqui ter deixado um poste sobre a coincidência de que entre as maiores fortunas paquistanesas se contarem os protagonistas maiores da actividade política daquele país. Agora, enquadrando devidamente as notícias do assassinato de Benazir Bhutto (acima), indo para além daqueles obituários triviais, convém relembrar como essa técnica tem sido um instrumento político muito frequentemente usada naquela região.
A 16 de Outubro de 1951, o primeiro primeiro-ministro do Paquistão, Liaquat Ali Khan (acima), foi assassinado, também com dois tiros, precisamente no mesmo parque de Rawalpindi onde Benazir Bhutto realizou o seu último comício antes de morrer. O pai de Benazir, Zulfikar Ali Bhutto (abaixo), também morreu assassinado (1979), embora formalmente se tratasse de uma execução, dado que os seus inimigos políticos (o general Zia-ul-Haq) ocupavam então o poder…
Do outro lado da fronteira, na Índia, foi a primeira-ministra Indira Gandhi que morreu alvejada por alguns dos seus próprios guarda-costas em 1984, e foi o seu filho, que também foi primeiro-ministro, Rajiv Gandhi, que morreu assassinado quando fazia campanha para a sua reeleição, por intermédio de uma bombista suicida que se fez explodir junto a ele, tal qual as notícias dizem que aconteceu ontem com Benazir.
Mas, Benazir Bhutto não se escapa das suspeitas de, no passado, poder ter recorrido precisamente aos mesmos métodos que agora a vitimaram, mesmo contra a própria família: o seu irmão mais velho Murtaza (acima) foi alegadamente assassinado em combate com a polícia quando ela era primeira-ministra, em 1996, e o seu irmão mais novo, Shahnawaz, apareceu morto quando exilado em França em 1985, em circunstâncias mais do que misteriosas...
É ainda muito cedo para dizer mais do que generalidades vagas sobre qual poderá ser o futuro do Paquistão e especular sobre a autoria do atentado. Uma certeza, tomando em conta casos precedentes e a tradição sociológica da região, é que passaremos a ouvir falar do nome de Bilawal Bhutto Zardari (abaixo, com a mãe), que tem hoje com 19 anos, e que é o filho mais velho de Benazir e de Asif Ali Zardari (acima, em família), e que este último possui, recorde-se, a segunda maior fortuna do Paquistão…

27 dezembro 2007

WHERE ELSE?

Cena: Um punhado de carros estacionados em dupla fila, alguns deles com os quatro piscas ligados, enquanto o condutor de um dos carros que estava legitimamente estacionado tenta sair, buzinando…
O tempo passa e ninguém aparece… Local da cena: precisamente diante da Esquadra da PSP de Carnaxide, where else? A diferença é que o condutor não se parecia nada com o George Cloney, nem mostrava o seu fair-play nos anúncios do Nespresso

26 dezembro 2007

FORÇA, FORÇA, COMPANHEIRO VÍTOR

Cada época terá a sua semântica própria, mas fiquei com a impressão que as últimas iniciativas tomadas pelo Governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, a respeito da crise do BCP, terão sido as medidas que mais se assemelharam, ao longo dos últimos 30 anos, ao que outrora – nos saudosos tempos do PREC – se designava por Banca intervencionada pelo Estado. Só fica a faltar mesmo é o folclore da fotografia de baixo… Nem a esquerda saudosa já é o que era...

OS MILIONÁRIOS E OS MULTIMILIONÁRIOS DO PAQUISTÃO

Nos tempos da Roma Antiga a luta política travava-se entre e em nome dos patrícios e dos plebeus. Nos tempos da Revolução Industrial, o Marxismo postulava que a disputa crucial era entre o proletariado e a burguesia. Nos princípios do Século XXI, há países em que a luta, tal qual a vi sintetizada numa interessante análise política sobre os acontecimentos da Ucrânia, passou a ser disputada entre os milionários e os multimilionários.

No Paquistão, por exemplo, um país também envolto em convulsões, analisando uma lista sobre as 44 maiores fortunas daquele país pode-se descobrir tanto ou mais sobre a disputa que ali se está a travar, do que usando uma outra lista sobre as formações políticas que se dispõem a travar as próximas eleições legislativas, embora a maioria dos nomes que constam da primeira lista sejam perfeitamente desconhecidos para os estrangeiros…

Assim o primeiro dos multimilionários paquistaneses é o anónimo Mian Mohammad Mansha (fortuna estimada: 1.900 Milhões €). O segundo é, o que será provavelmente um nome tão anónimo quanto o anterior, Asif Ali Zardari (1.350 Milhões €), não se dê a curiosa circunstância de ele ser casado com Benazir Bhutto, que já não é um nome desconhecido: a líder do PPP (Partido Popular Paquistanês) e ex-primeira-ministra do Paquistão de 1988 a 90 e de 1993 a 96.

O terceiro nome da lista, o anglo-paquistanês Sir Anwar Pervaiz (1.100 Milhões de €), poderá representar, simbolicamente, a importância que representa a diáspora paquistanesa, dado que a maior parte da sua fortuna foi criada e permanece no Reino Unido. Mas o quarto nome será totalmente familiar para aqueles que conhecem a política paquistanesa: Nawaz Sharif (1.000 Milhões de €), também ex-primeiro-ministro paquistanês de 1990 a 93 e de 1997 a 99, actual líder da Liga Muçulmana.

Não deixa de ser curioso acompanhar a evolução das fortunas paquistanesas. Assim, tomando por exemplo, a primeira, a de Mian Mohammad Mansha, ela ocupava a 15ª posição nos anos 70, passara a 6ª nos anos 90, para se tornar a maior da actualidade. Em contrapartida, aquela que termina a lista dos milionários, no 44º lugar, pertence a Kasim Dada (150 Milhões €), o descendente de uma fortuna muito mais antiga, de um empório comercial que remonta à época colonial.

Refira-se, como curiosidade, que foi em grande parte em representação dos interesses comerciais na África do Sul dessa família Dada que o então jovem advogado Mohandas (Mahatma) Gandhi ali se instalou em 1893… A fortuna da família assim permaneceu, proeminente à escala global, mesmo depois da independência em 1947, tendo eles, naturalmente e como muçulmanos, optado por ficarem com a nacionalidade paquistanesa…

Infelizmente para eles, durante a primeira metade da década de 70, os Dada cometeram o enorme erro de se oporem aos Bhutto, que ocupavam então o poder (1971-77), e o primeiro-ministro Zulfiqar Ali Bhutto (pai de Benazir) nacionalizou-lhes praticamente toda a fortuna… Como prova o exemplo de Khodorkovsky na Rússia, defrontar directamente o poder político é um erro fatal e suponho que todos os que constam daquela lista de milionários e multimilionários paquistaneses o pretende evitar...

25 dezembro 2007

FRANKIE FREDERICKS, O VELOCISTA DE PRATA

Frankie Fredericks foi um excepcional atleta namibiano, especialista em corridas de velocidade (100 e 200 Metros), que, nos grandes eventos como Campeonatos do Mundo e Jogos Olímpicos, conseguia o feito excepcional de chegar simultaneamente às finais daquelas duas especialidades, para depois as perder… mas ficando em 2º lugar. Assim, ao longo da sua carreira, nessas provas maiores do Atletismo, coleccionou 1 medalha de ouro… e 7 medalhas de prata.
Como namibiano, país que era administrado pela África do Sul, que estava, por sua vez, banida das competições desportivas, só depois da independência da Namíbia em 1990, quanto tinha 23 anos, é que Frankie Fredericks pôde passar a competir internacionalmente pelo seu país. Nos Campeonatos do Mundo do ano seguinte (1991) em Tóquio, Fredericks foi 5º classificado na final dos 100 Metros e 2º classificado (a primeira de uma longa série de medalhas de prata) na dos 200.
No ano seguinte, nos Jogos Olímpicos de Barcelona disputados em 1992, Fredericks ganhou mais duas medalhas de prata nos 100 e 200 Metros. A única medalha de ouro ganhou-a nos 200 Metros dos Campeonatos do Mundo de 1993, realizados em Estugarda, na Alemanha. Na final de 100 Metros foi 6º classificado. Em 1995, nos Campeonatos do Mundo seguintes, realizados em Gotemburgo, Suécia, foi 4º classificado na prova de 100 Metros e, mais uma vez, 2º na de 200.
Ficava para os Jogos Olímpicos de 1996, em Atlanta, Estados Unidos, a tentativa de obter finalmente um título olímpico. Falhou por pouco nos 100 Metros – 2º lugar e mais uma medalha de prata… Na prova dos 200 Metros, Fredericks correu como nunca, e até bateu o Record do Mundo até então, com a marca de 19,68 segundos, mas chegou em segundo lugar (mais uma medalha de prata…) porque Michael Jonhson (abaixo) tinha sido ainda mais rápido, estabelecendo um novo Record do Mundo (19,32 segundos)…
Nos Campeonatos do Mundo do ano seguinte (1997), disputados em Atenas, lá tivemos mais uma vez Frankie Fredericks na final dos 100 Metros a terminar em 4º lugar e nos 200 Metros a terminar em (adivinharam?...) 2º lugar, com a medalha de prata. Embora a descoberta dos casos de doping mande fazer estes elogios às carreiras dos atletas com todas as prudências, este caso de Frankie Fredericks, fadado para as medalhas de prata, parece ser um dos melhores casos de uma carreira excepcional que passou ao lado de uma grande cobertura mediática…

24 dezembro 2007

A AFICION E O VINHO

A associação mais famosa entre touros e vinho será o logótipo da marca espanhola Osborne. Há também os vinhos Sangre de Toro catalães, da casa Torres. E, no entanto, surpreendi-me outro dia a fazer uma terceira associação, pela estrutura semelhante como cada vez mais se redigem as críticas aos vinhos, cheias de neologismos e de termos herméticos como as da Festa Brava, como se ambas se destinassem à casta exclusiva a que o iniciado terá que pertencer.

Assim, comparemos esta crítica tauromáquica (retirada daqui),
No segundo toiro do grupo foi escolhido o forcado da cara Franciso Baltazar, não esteve bem a reunir com o toiro, mas conseguiu recuperar e fechou-se á barbela concretizando a pega ao primeiro intento. á assinalar que este toiro apresentava-se mais sério que o primeiro, porque apresentou-se com murrilho, de cara alta e era curto de cornos. Era necessário que o forcado se fechasse á barbela. Esta pega foi mais emotiva que a primeira devido ao toiro na pega ter mudado de trajectória, provocando assim uma maior concentração e rapidez nas ajudas para a pega ser concluída com sucesso. Penso também que o forcado da cara no cite podia alegrar mais a investida ao toiro. O primeira ajuda foi o João Rodrigues e o rabejador Tiago Ribeiro.

com os comentários desta prova (retirados daqui),
A pureza e sensualidade da fruta alentejana estão dentro do copo, vincadas pela personalidade da ameixa. As especiarias surgem por detrás deixando rasto a baunilha e noz-moscada, de agradável perfil, tudo avivado por uma frescura notável, equilibrada. Na boca mostra raça, estrutura, equilíbrio respeitável para quem tem 14º de corpo. Termina longo, fresco, vivo, com persistência de sabores a madeira, fruta e especiarias. Os taninos polidos, domesticados, cooperam com a acidez dando profundidade ao corpo no final de boca. Um conjunto imediato, apetecível, muito alentejano nos sabores.

Fica-nos a sensação que, com este mimetismo de atitudes, não tardará o dia em que alguém, mais ousado, rematará a sua apreciação sobre um determinado vinho com a interjeição … e Olé! Há-de ser engraçado… e é disparatado.

23 dezembro 2007

AND NOW FOR SOMETHING COMPLETELY… THE SAME

É difícil não simpatizar, por vezes, com a atitude lúdica que Nuno Rogeiro costuma assumir nas suas intervenções públicas. Ela nota-se quer quando explica as capacidades tácticas do material de guerra socorrendo-se de miniaturas que leva para o estúdio, ou quando, como ontem, no programa Sociedade das Nações da SIC Notícias, entrevista com o ar totalmente embevecido de fã incondicional da série, o Monty Python Terry Jones (abaixo).
O preço a pagar por aquele seu estilo reflectir-se-á depois na seriedade com que são tidas em conta as afirmações que profere… E por vezes isso pode ser injusto, mas também parece ser coisa que não incomode Nuno Rogeiro. O que fiquei quase com a certeza absoluta ao assistir ao programa é que o entrevistador foi pedir o autógrafo ao entrevistado depois da entrevista…. E pagarem-nos para nos divertirmos é o sonho de todos nós.

SIMETRIAS

Francisco José Viegas e José Pacheco Pereira serão os dois autores mais emblemáticos da blogosfera, daqueles que já saíam na televisão antes de saírem nos blogues, ao contrário da maioria dos restantes autores agora conhecidos, que seguiram o percurso inverso. É por causa dessa semelhança que se torna engraçado a atitude quase perfeitamente simétrica dos dois a respeito das questões recentes envolvendo o submundo portuense.
De um lado, com excepção daquelas raras (e extensas...) análises sociológicas das bases do PSD, nunca o Abrupto e o seu autor deverão ter dedicado tanta atenção a assuntos tão prosaicos, envolvendo gente tão plebeia, de uma reconhecida baixa craveira intelectual, como são os casos de Carolina Salgado ou dos vários dirigentes da claque dos Super Dragões. Só falta vir-se a descobrir que José Pacheco Pereira até já sabe quem é o Emplastro!...
Do outro lado, o cantinho do hooligan de A Origem das Espécies parece ter-se encolhido bastante nos últimos tempos enquanto a capacidade de indignação de Francisco José Viegas parece ter-se esgotado em todas as malfeitorias perpetradas nos últimos meses por Lula da Silva… Ou como o criador do detective Jaime Ramos poderia dizer, no seu estilo distintamente cosmopolita: ¡No pasa nada!, que aquilo à volta do FC Porto é tudo boa gente…

OS 2 CANAIS QUE MAIS CONTRIBUIRAM PARA A DIFUSÃO DA LÍNGUA ALEMÃ EM PORTUGAL…

Nos finais da década de 80, com o aparecimento das antenas parabólicas, e antes do aparecimento das televisões privadas, houve a primeira oportunidade de diversificar a escolha da programação televisiva, que tinha estado até aí limitada às duas RTP. Tornou-se relativamente acessível que os condóminos de um prédio se concertassem para comprar uma antena parabólica cujo sinal depois se distribuía pelas habitações.
Uma das fases delicadas era a da selecção dos canais a distribuir (normalmente uma meia dúzia, ou um pouco mais) de um leque de muitas dezenas retransmitidos pelo satélite. Foi nessa época que ganharam ressonância nomes de canais que hoje são comuns, como o Eurosport, o canal que transmite continuamente desporto. Havia outros canais que eram escolhidos pela semelhança das línguas utilizadas com a portuguesa, como a RAI italiana, ou a Galavision mexicana.
Havia também contribuições mais sérias, como as informativas Sky News e CNN em inglês, ou mais misteriosas, como eram os casos da RTL ou da SAT1, que emitiam em alemão, e que, mau grado as naturais dificuldades de compreensão das emissões, pareciam ser canais indispensáveis nos leques à disposição dos espectadores dos canais satélite… por causa da sua programação de pornografia softcore das emissões de Sábado à noite!
A história melhor, contudo, foi a de um meu conhecido, reformado, que arrasou a sua reputação, quando se bateu ingénua e veemente pela adição de um canal em língua alemã às escolhas na sua assembleia dos condóminos, porque ele falava a língua e apreciava a cultura. Depois passou a ser saudado com um sorrisinho irónico cada vez que se cruzava no prédio com os vizinhos… E só descobriu a causa quando o marido da porteira do prédio, insuspeito de saber quem era Goethe, o felicitou (de forma cúmplice e efusiva) pela escolha…

22 dezembro 2007

SOFTWARE DE BASE - RECLAMAÇÃO

Já aqui me devo ter referido aos bons velhos tempos da RTP em que, de um momento para o outro, o ecrã ficava subitamente negro, o espectador duvidava da fiabilidade do aparelho que tinha em casa e da sinceridade do empregado da casa de electrodomésticos que lhe afiançara que aquela marca era a melhor do mercado, até aparecer o letreiro que dissipava finalmente as dúvidas:

Pedimos desculpa por esta interrupção.

A emissão segue dentro de momentos
.

Parecia haver uma recuperação progressiva dos acontecimentos: à imagem, seguia-se o som, com uma música ambiente a acompanhar o letreiro, até ao aparecimento da locutora de serviço (por exemplo, a Isabel Wolmar - acima com Henrique Mendes) repetindo as desculpas, e dando continuidade à emissão.

Pois bem, considerando a quantidade de software que actualmente se carrega dentro de vulgar computador e contando o número de vezes que o meu computador hoje já crashou, precisamente da mesma forma que a RTP fazia há 40 e tal anos (o ecrã fica subitamente todo negro…), já podiam ter instalado um software de base com um letreiro automático com aqueles dizeres, acrescido com um vídeo do Youtube com um pedido de desculpas da Isabel Wolmar…

21 dezembro 2007

A EUROPA DO HUMOR

Não tenho a certeza se o humor alemão é algo que não existe e a expressão fará tanto sentido como, por exemplo, falar da pontualidade portuguesa ou se, pelo contrário, o humor alemão é, conjuntamente com o humor de José Pacheco Pereira, um daqueles verdadeiros enigmas do universo, tão difíceis de encontrar e investigar quanto os neutrinos, partícula cuja existência foi primeiro deduzida teoricamente em 1930, mas que só veio a ser detectada 26 anos depois*…
A verdade é que uma das vezes em que me dei conta de quão específico esse hipotético humor germânico deve ser foi quando discutia com um nacional a importância relativa dos poderes do governo federal e dos governos estaduais alemães (os Länder) e, quando ele se entusiasmou na defesa da importância dos últimos, e o desafiei a enumerar, sendo eles assim tão importantes, os nomes dos 16 chefes dos governos estaduais… Surpreendentemente, ele pegou-me na palavra – e desistiu, depois de enumerar oito…
Mais engraçado é que, no seguimento da conversa, há alguém (de um país da Europa meridional, mas não português) de uma roda internacional de europeus que lança a anedota: – Quantas aspirinas é que um alemão toma em caso de ter uma dor de cabeça? – Quatro. Uma para cada canto… Todos riram, excepto os alemães presentes… e, dados os vários precedentes, ainda estou hoje para descobrir porque não riram: se porque a piada era sobre alemães, se porque para eles aquela piada não tinha piada nenhuma…
Há um longo caminho que a unidade europeia ainda tem de percorrer para além das assinaturas de tratados constitucionais…

* Tanto o responsável pela dedução como pela detecção receberam o Prémio Nobel da Física (em 1945 e 1995, respectivamente).