17 setembro 2007

NÃO É SÓ NESTE PAÍS…

Não é só neste país, como canta Sérgio Godinho, que os casos de corrupção tendem a passar impunes, por muito que existam indícios fortíssimos a envolver os implicados. A Lockheed Co. era (desapareceu absorvida por uma rival) uma construtora aeronáutica norte-americana que era mais afamada pela agressividade que colocava nas técnicas de promoção dos seus produtos do que propriamente pela qualidade dos mesmos…
Contudo, curiosamente, o apogeu dos escândalos associados às recordações com que a Lockheed gratificava directa ou indirectamente os membros dos comités de selecção dos equipamentos a adquirir não rebentou na década de 1960, quando houve um mega concurso para o equipamento de caças interceptores para as Forças Aéreas dos países da NATO que foi ganho surpreendentemente pelo seu F-104 Starfighter (abaixo)…
Nesse concurso, a concorrência era constituída primordialmente por aparelhos militares europeus (como os Mirage franceses) e a ressaca que se costuma gerar depois destes concursos coincidia com as tradicionais rivalidades nacionais. Mas na disputa para o equipamento das Forças Aéreas na próxima geração (em 1975-76), foram concorrentes compatriotas da Lockheed que fizeram rebentar o escândalo no Senado americano.
As investigações então efectuadas fizeram desenterrar volumosos subsídios entregues ao ministro da defesa alemão (e dirigente regional bávaro) Franz-Jozef Strauss, ao primeiro-ministro japonês Kakuei Tanaka (acima), ao marido da Rainha da Holanda, príncipe Bernardo, entre muitos outros beneficiados, menos mediáticos, mas decisores que eram funcionários e militares de países tão variados como a Itália ou a Arábia Saudita.
O mega concurso da década de 1970 foi ganho pela General Dynamics e o seu F-16 (acima)… Franz-Jozef Strauss continuou a ser o patrão na Baviera e do seu partido regional, a CSU, uma espécie de Alberto João Jardim em alemão, mais a sério e mais poderoso, Kakuei Tanaka continuou a manipular o Partido Liberal Democrata no poder no Japão, só que agora nos seus bastidores, e a Rainha Juliana não se divorciou obviamente do seu Bernardo…
De toda esta história ficou uma constatação que os negócios envolvendo armamento (como o dos submarinos, por exemplo…) operam com margens tão abundantes que se prestam facilmente a bondosas distribuições de benefícios entre os envolvidos e obtêm-se resultados! A outra constatação é que, mesmo sem ser neste país, o seu desmascaramento não costuma ter consequências sérias para as carreiras políticas dos envolvidos…

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