07 agosto 2007

A RGA DO BCP

Creio que será um pouco mais genuíno do que a falta de assunto concorrente a existência de todo este fervilhar à volta da assembleia-geral do BCP. Como é costume nestas circunstâncias em que não há nada para dizer (a reunião foi interrompida), cria-se uma genuína cumplicidade entre os que precisam de alguém que diga coisas e os que as adoram dizer como Rogério Alves, José Miguel Júdice e a nova estrela em ascensão nos charts desse tipo de música (já disco de platina): o Joe!
Acalmando tanto frenesim é preciso perceber, da leitura de livros como o representado acima (The Tycoons), como situações do mesmo género eram demonstrativas das disputas pelo poder dentro das empresas travados pelos magnatas e como elas sempre foram sórdidas e recorrendo a todo o tipo de expedientes. E no caso do livro em referência fala-se de figuras tão reverenciais do capitalismo como John D. Rockfeller, Jay Gould, Andrew Carnegie ou John Pierpont Morgan.

Só depois de atingidos os seus objectivos, é que passou a competir aos descendentes de tão venerandas figuras passarem-se por cavalheiros e damas distintos, desdenhosos de quem se possa envolver em processos tão degradantes – como serão os casos dos Mellos e dos Espíritos Santos, entre nós… Poderá ser desagradável e até com travos de revolucionário, mas é repetidamente verdadeiro que, por detrás de uma grande fortuna, existem sempre histórias opacas. E este caso do BCP não é excepção…
Por outro lado, graças ao PREC, todos os portugueses que tenham hoje mais de 45 anos (é uma espécie de Conquista de Abril…) ficaram habilitados a reconhecer os vários expedientes usados para a manipulação de reuniões, desde a argumentação mais física para a apropriação do microfone e da mesa da condução dos trabalhos numa RGA (Reunião Geral de Alunos), até ao truque do arrastamento dos trabalhos com a votação de intermináveis moções preliminares* até levar à formação de um quórum apropriado

Claro que para o fim de 75 já todos eram especialistas na matéria, e ficou famosa a história de uma reunião do sindicato dos bancários em que não houve nem truques nem militância que valesse ao pessoal do DPP** que conduzia os trabalhos: a assembleia foi interrompida às seis da manhã, mas o arrastamento dos trabalhos desde a noite anterior não havia conseguido demover a facção adversa à mesa (socialistas, mrpps e os outros todos…), e esta continuava com gente suficiente para ganhar as votações dos assuntos importantes. Portanto a reunião não evoluía...
Ora o que me pareceu que ontem estava preparado para acontecer na assembleia-geral do BCP parecia ter sido directamente transposto de uma RGA do PREC, com muita confusão preparada de antemão para emperrar a ordem dos trabalhos, não fora o pormenor da indumentária dos protagonistas, onde se notavam mais gravatas e menos gangas do que nas RGAs originais - mais uma vez, excepção feita ao Joe… É por isso desculpável a condescendência com que se recebe o entusiasmo da (boa) análise aos acontecimentos feita por pessoas como Pedro Santos Guerreiro, director do Jornal de Negócios.

É que para ele, parece que tudo isto é novidade: se questionado por Baptista Bastos, ele não estava em lado nenhum no 25 de Abril…

* Recordo-me que havia uma moção indispensável nessa altura e para essas ocasiões: a de solidariedade com os povos vietnamita e cambojano por causa da sua vitória na luta de libertação contra o imperialismo americano.
** Determinado Partido Político: eufemismo que se empregava quando o pessoal do PCP era caçado a dar golpes baixos

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