14 agosto 2007

A DITADURA DOS DOIS NOMES

Há uma habituação tão grande ao tratamento das pessoas pelos tradicionais dois nomes usados pela cultura ocidental que nem nos apercebemos como às vezes tropeçamos em nomes de outras culturas que foram forjados para que obedeçam a essa regra e nos soem mais agradáveis aos ouvidos ocidentais.
Nos tempos modernos são raras as culturas que mantiveram a prática do nome único para designar o indivíduo. Um dos casos era o da Turquia do período otomano e foi aliás uma das revoluções de Kemal Ataturk (1881-1938) a de obrigar os turcos que não o tinham a escolher um nome de família.
É por isso que muitas das figuras de destaque do império otomano incluem o nome de Paxá ou Bey, que não passam na realidade de títulos honoríficos que são adicionados ao nome (muitas vezes único) do nomeado para nosso conforto auditivo, como Murad Bey (1750-1801) ou Jamal Paxá (1872-1922).
Outro caso, que nos fica mais distante em geografia, mas é mais moderno, é o do birmanês U Thant (1909-1974), que foi o Secretário-Geral da ONU entre 1961 e 1972. É que U, em birmanês, é apenas o equivalente a uma forma de tratamento respeitadora de senhor, e o seu nome era apenas Thant…
Mas a ditadura também parece funcionar também ao contrário, ao forçar a compactação de três nomes para dois, como aconteceu com a reforma das regras de transliteração do mandarim (pinyin). Assim, Mao Tse-Tung (1893-1976) passou a Mao Zedong e Teng Hsiao-Ping (1904-1997), passou a Deng Xiaoping.

De cima para baixo: Kemal Ataturk, U Thant, Mao Zedong e Deng Xiaoping. Note-se que, ao contrário dos anteriores, os dois líderes chineses nunca cederam à moda ocidental na forma de vestir.

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