23 julho 2007

ÉPOCA DE DEFENESTRAÇÕES?

Ainda a propósito dos Habsburgos, e da má relação que nós, portugueses, viemos a desenvolver com eles, ainda são muitos os que se recordam de um famoso episódio da Restauração de 1 de Dezembro de 1640 em que Miguel de Vasconcelos, o secretário de estado da Duquesa de Mântua, a Vice Rainha de Portugal em nome de Filipe IV, foi atirado janela fora (numas versões já morto, noutras ainda vivo) pelos conspiradores que haviam desencadeado a sublevação palaciana naquele dia.
O que já é menos conhecido é que toda a história poderá ser apócrifa, inspirada num episódio semelhante que ocorrera 22 anos antes em Praga, e que ficou conhecido pela Defenestração de Praga, quando os dois representantes e o escrivão de uma delegação enviada por um outro monarca Habsburgo (Fernando II) sofreu igual tratamento e voaram janela fora depois de exasperarem a delegação de nobre checos com quem haviam sido encarregados de negociar (gravura acima).
Este segundo episódio foi menos sangrento que o anterior, embora mais humilhante, porque, alegadamente, os três defenestrados aterraram numa enorme pilha de estrume de cavalo que lhes amorteceu a queda, o que os deve ter deixado combalidos, mal cheirosos, mas incólumes… Dando a volta à Europa, esta história deve ter transformado o gesto da defenestração, aplicado a representantes de um poder central, como um acto poderosamente simbólico de recusa da aceitação de um poder central opressivo.
Fica-me a dúvida sobre quem, por estes dias, me apeteceria mandar pela janela fora para que aterrasse noutro monte de estrume: se Teresa de Sousa e o poder mediático, que se tornou numa espécie de porta-voz, raramente rebatida, da benignidade congénita do poder comunitário; se José Sócrates e o poder político, que, parecendo um adolescente cuja vaidade foi facilmente manipulável pelos interesses alemães, tomou como sua a tarefa das negociações de um tratado que os alemães, pelos anticorpos que geram, dificilmente conseguiriam fazer aprovar.

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