07 junho 2007

O PINCEL DE BARBA E O PROCESSO CRIATIVO DAS IDEIAS

Um dos aspectos que é levado muita a sério no estudo das organizações é o da gestão das ideias novas. Há uma corrente democrática que acredita que a ocorrência de boas ideias se distribuem uniformemente pelos membros da organização e que isso deve ser aproveitado através da complementaridade dos diferentes pontos de vista em reuniões criativas, descontraídas, onde a hierarquia desaparece, designadas por brain storm. Diz-me a experiência que o brain storm é facílimo de sabotar quando o chefe se esquece de deixar a autoridade à porta e conduz a reunião para a elaboração das suas próprias ideias, que saem dali com uma chancela democrática*.

A corrente autocrática, ao menos, não corre o risco dessas hipocrisias. O chefe encomenda as ideias e elas são trabalhadas num círculo restrito ou resolve ficar com o exclusivo da origem das mesmas, o que pode ser grave, muito grave. A gravidade é que elas normalmente aparecem em esboço, nebulosas, sem análise das implicações que resultariam da sua implementação, o que as faz parecer resultados de sinapses matinais dentro da cabeça do chefe, enquanto ele se barbeava ou tomava o duche. O que costuma dar origem ao comentário mordaz e clandestino: Alguém tem de ensinar o chefe a assobiar ou a cantar para que ele esteja entretido na casa de banho de manhã…

Se já vi este método em variadíssimas organizações, o que eu nunca presenciara era um governo a conduzir a sua acção governativa pela produção e divulgação pública de ideias que, não tendo qualquer suporte em propostas ou projectos de legislação, parecem ter saído da ponta de um pincel de barba matinal de um qualquer ministro ou secretário de estado. Este último caso do secretário de estado da administração local, Eduardo Cabrita, mais a sua proposta de suspensão automática dos mandatos autárquicos e mais todos os problemas colaterais que levanta (consistência, constitucionalidade…) só lhe devem ter feito sentido às 7H15 da manhã, antes de ter tomado o pequeno-almoço…

* O método é muito mais antigo e não se confina apenas às áreas de gestão. De um exemplo ao acaso retirado do PREC, podem evocar-se algumas das decisões do major Tomé na Polícia Militar, que não eram dele, mas da assembleia da unidade, composta revolucionariamente por todos os praças, sargentos e oficiais da mesma…

1 comentário:

  1. Digamos que é SÓ mais uma asneira, no extenso rol que os nossos queridos governantes debitam, a uma velocidade que faz dos “Gatos Fedorentos” caracóis do humor...

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