22 junho 2007

75% DE CARNE MAGRA

Declarei aberto o período de perguntas (...).
– Que quer dizer com isso,
ilegal?
Atenuei a resposta.
– Ilegal na prática – respondi – As salsichas de porco deverão conter 75% de carne de porco magra e o mesmo acontecerá com as salsichas de vaca.
Um tipo do
The Sun perguntou se as salsichas de vaca deverão também conter 75% de carne de porco magra. É o típico correspondente de antecâmara. Se fosse o único inscrito num concurso de inteligência, ficaria em terceiro lugar (…)
Relato de James Hacker, candidato a primeiro-ministro (Yes, Prime Minister, p. 59)
O Público teve anteontem um verdadeiro momento The Sun. A história é breve de se contar. A Nova Democracia, o partido de Manuel Monteiro, teve um daqueles momentos de demagogia ignorante, infelizmente tão frequentes na actividade política partidária portuguesa e vai de criticar a nomeação de um embaixador para as Seychelles enquanto se fecham consulados nos países europeus. E o Público publicou a notícia indignada e inteirinha, com isco e anzol...
Deve ter sido um fartote de riso no Ministério dos Negócios Estrangeiros, com os dirigentes da Nova Democracia e os jornalistas do Público a demonstrarem que percebiam tanto do assunto da nossa rede de embaixadas e consulados no Mundo como o correspondente do The Sun percebia da composição das salsichas com o inconveniente adicional de que os segundos nem sequer terem feito as perguntas que deviam: o embaixador das Seychelles reside no Quénia e acumula funções com uma porção de representações noutros países da África Oriental.
Não tendo a ousadia de Hacker de os classificar a uns e outros em concursos de inteligência virtuais, reconheço todavia que o Público tem momentos ímpares que são só seus: foram os do dia seguinte (ontem), na patética tentativa de transferir a responsabilidade da galga para a Nova Democracia, autora do comunicado original. Interiormente, o jornal reconhece o erro, utilizando a palavra erradamente no cantinho inferior da 27ª linha das 30 de uma notícia estreitinha da página 12. Exteriormente, as censuras, na última página, vão todas para Manuel Monteiro (que até aparece em fotografia na rubrica dos que estão em baixa) e para o seu partido, terminando-as assim: O PND, esse, devia fazer melhor política

Isto é o que se chama ter superioridade moral para fazer recomendações…

Nota: Enviei o poste para o Provedor do leitor do Público, não se dê o caso de ele estar desprovido ou de lhe faltar provisão de assuntos que tratar. A ver se a inspiração provê Rui Araújo de algum comentário sobre um incidente em que, pela aparência, no Público não há quem queira assumir as responsabilidades pela publicação de uma notícia ridícula, nem as saiba distinguir de publicidade ou de tempos de antena – os casos em que a responsabilidade dos conteúdos não é do jornal.

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