16 abril 2007

TRATADO SOBRE AS IGNORÂNCIAS DOS NOSSOS PGRs

Entre o que separa americanos e europeus em termos de comportamento, para além do emprego de uivos em manifestações sociais de regozijo, conta-se o à vontade com que os primeiros manifestam a sua ignorância a respeito de qualquer assunto. É característica que tem vantagens e inconvenientes: uma aula que queiramos mais participada quando conta com alunos americanos é um gosto, eles não se inibem de dizer o que lhes vai na cabeça; uma sondagem de rua sobre um tema qualquer (como esta) pode tornar-se mais do que hilariante, embaraçosa, porque eles continuam a não se inibir de dizer o que lhes vai na cabeça…

No nosso velho continente há uma outra inibição de mandar bojardas para o ar quando não se percebe nada do assunto: a loura das nossas anedotas só tem piada porque faz aquele comentário precisamente na altura onde devia ter ficado calada. E há imensos ditados populares (ex: a palavra é de prata mas o silêncio é de ouro) prezando a discrição. Só que olhando mais em detalhe, acredito que esta generalização tenha excepções. Pelo menos entre portugueses, e para certas pessoas de certas elites, o comportamento a adoptar quando à demonstração de sapiência ou ignorância depende muito do tema que esteja em causa. E às vezes as incongruências que daí resultam tornam-se ridículas.

Não repugna, por exemplo, a alguns economistas de renome confessar displicentemente que não tem conhecimentos de contabilidade suficientes para que consigam analisar autonomamente as demonstrações financeiras de uma grande empresa... Ou médicos que não sabem (e desprezam os colegas que sabem) dar uma injecção... E então entre a classe dos juristas, parece haver até um extenso manual de temas sobre os quais é ou não é importante confessar conhecimentos ou ignorâncias. O que nos leva ao propósito deste poste: as definições do que é (ou não é) cultura geral ou ignorância funcional admissível para os nossos Procuradores-Gerais da República…

Ouvi ao estimado Souto Moura, numa das inúmeras ocasiões em que ele era detido pelo tradicional muro dos 18 microfones à saída de qualquer lado (e onde nunca havia porta das traseiras que evitassem que ele fizesse figuras tristes…), que antes do sarilho do Envelope 9, nunca havido ouvido qualquer menção ao Excel (o utilitário usado para elaborar a famosa lista), e disse-o com o ar tranquilo de quem agora ouvira falar, mas de quem não fazia intenção de investigar por ele do que se tratava, que saber de informática é coisa de que um jurista em pouco ou nada pode beneficiar. E o que é que se podia fazer? Era Souto Moura…
E depois sucedeu-lhe Pinto Monteiro, o gajo que se espera que vá endireitar a situação, que se revela, numa audiência parlamentar, um perfeito discípulo do seu antecessor na forma displicente como comenta os conteúdos da blogosfera com a segurança que só a ignorância do conhecimento directo sobre aquilo de que está a falar pode trazer… Mais ridículo que isto, só a certeza que qualquer dos dois (Souto Mouro e Pinto Monteiro) ficaria à rasca se lhes pedissem em público a tradução de uma expressão jurídica latina para português... Que tal confrontarem-se com a explicação do significado de ubi eadem est ratio, idem jus*? Isso é que - na opinião deles - era uma vergonha que o PGR não soubesse…

* Onde há a mesma razão, há o mesmo Direito.

Nota: o meu agradecimento à Sofia, donde retirei o vídeo onde Pinto Monteiro faz aquela figura deplorável. Não é por dizer que não gosta da blogosfera, é pela confissão involuntária de não saber do que está a falar e pelo sítio onde, oficialmente, o demonstra...

1 comentário:

  1. Porque será que só nos calham PGR’s que não vivem neste mundo?
    Começo a entender o PNR… Andamos a importar ET’s!!!

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