15 abril 2007

OS POLÍTICOS BANQUEIROS

Falando a respeito de políticos que foram contemplados com uma sinecura à frente de um banco depois de abandonarem a actividade principal vale a pena recordar a figura de Jacques Attali, um conselheiro económico que gravitava à volta de Mitterrand (o que, em si, é logo um descritivo do seu carácter*) mas que, para o exterior, passava uma imagem onde se julgava um iluminado como Pedro Arroja, era tão petulante quanto Braga de Macedo e tão viscoso quanto Pina Moura.

Em 1990, muito provavelmente apadrinhado pelo presidente francês e depois de abandonar o Eliseu, Jacques Attali foi escolhido para presidir ao BERD (Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento), um projecto que fora concebido para apoiar especialmente os países da Europa de Leste que, como em muitas outras coisas europeias, os franceses reclamavam como ideia sua, mas onde os fundos eram maioritariamente dos outros… O organismo ficou sedeado em Londres.

E depois, em 1991, Jacques Attali pôs-se a jogar às peras** com John Major, o primeiro-ministro britânico da altura, ao convidar deliberadamente Mikhail Gorbatchev para o visitar em Londres precisamente na altura em que ali decorria uma cimeira dos países do G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá) o que obrigou os seus líderes a receber o presidente soviético, para evitar a grave descortesia que constituiria o gesto oposto...

Evidentemente que, no seguimento do incidente, John Major mandou fazer a folha a Jacques Attali, com uma campanha de imprensa (dos dois lados da Mancha) onde o bestial economista de outrora passou rapidamente a besta, que nada fizera à frente do BERD, a não ser mandar construir uma magnifica sede que custara a módica quantia de 55 milhões de libras… No seguimento destas revelações, Jacques Attali foi obrigado a demitir-se em 1993. Hoje tenta passar desapercebido***…
A trajectória de Paul Wolfowitz, que se tornou presidente do Banco Mundial em 2005, depois da sua passagem como subsecretário da Defesa da administração Bush, parece estar a seguir, em traço gerais, o que aconteceu a Attali. Talvez com uma agravante suplementar: Attali era considerado um homem do círculo próximo de Miterrand, Wolfowitz é considerado um dos homens que fez a cabeça (...) a George W. Bush, causa adicional da azia que a sua pessoa suscita.

Já aqui me referira, num outro poste, a indicações que havia quem não iria deixar Paul Wolfowitz passar desapercebido entre os pingos da chuva. Houve o episódio caricato das peúgas rotas à saída da mesquita de Istambul (na imagem de cima), mas é este – muito mais sério – das acusações de nepotismo em relação à sua namorada (na imagem abaixo) que, tudo parece indicar, terá de acabar com a sua resignação – voluntária ou forçada – da presidência do Banco Mundial.
Wolfowitz parece ser, à sua maneira, mais uma vítima da Guerra do Iraque e dos métodos (forjados) de persuasão empregues para a desencadear, o que é uma indicação dos perigos que correm Donald Rumsfeld e Tom DeLay e aguardarão George W. Bush e Dick Chenney, além de outros protagonistas mais discretos, tão logo abandonem o poder… Ao contrário daquela famosa citação do filme O Padrinho, aqui deve dizer-se: It´s not politics, Sonny. It´s strictly personal****…

* Mitterrand era muito cioso quanto às suas relações próximas. Por curiosidade, vale a pena ver imagens de época e o comportamento subserviente, mesmo em público, do, normalmente altivo, son ami Mário Soares…
** De um ditado popular português: com teu amo, não jogues às peras
*** Mesmo assim, já foi associado a um recente escândalo do tráfico de armas com Angola…
**** A citação original do filme é: It´s not personal, Sonny. It´s strictly business. (Não é pessoal, Sonny. É uma questão de negócios, exclusivamente). A versão do poste lê-se: Não é política, Sonny. É uma questão pessoal, exclusivamente.

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