16 abril 2007

OS AVIÕES MAIS BIZARROS DO MUNDO

Ao contrário do que se possa pensar, considerando os ases da aviação que revelou, a Primeira Guerra Mundial começou imensamente pacífica nos céus. Os aviões serviam sobretudo de unidades de reconhecimento do inimigo e quando duas unidades adversárias se cruzavam, os mais civilizados cumprimentavam-se e os mais nervosos disputavam-se a tiro de pistola, num esforço inglório para tanto belicismo.

Como se adivinha, os problemas que se colocavam eram o de instalar num avião poder de fogo suficiente para derrubar outra aeronave (uma metralhadora), o que era um problema relativamente fácil de solucionar, reforçando a potência dos motores, e o da disposição da arma, complicado, dado que para o piloto fazer pontaria, teria que atirar através da hélice, mas se lhes acertasse – e as hélices eram, na época, feitas de madeira – poderia, além do inimigo, abater dois aviões ao mesmo tempo...
Desculpem-me o pedantismo de me citar, mas já descrevi noutro poste as quatro formas estudadas na época para resolver o problema do emprego de uma metralhadora frontal nos aviões:

a) - Voltando à prancheta, os desenhadores transferiram a hélice para a traseira, atrás das asas. O avião passava a poder atirar em frente mas era comparativamente muito mais difícil de manobrar.
b) - Desenrascando o problema concreto, pondo duas espessas chapas de aço deflectoras na traseira dos hélices do avião. O avião ficava desequilibradamente mais pesado à frente, com menos potência e também mais difícil de manobrar.
c) - Criando um novo avião em que a metralhadora estava instalada no eixo central do hélice. Eficaz mas limitava o design do motor do avião e, com o uso da metralhadora, levantavam-se problemas de refrigeração, tanto do motor como da arma.
d) - Concebendo um sistema que sincronizasse o disparo das metralhadoras com o da passagem das pás dos hélices. Foi o que prevaleceu e, primeiramente usado pelos alemães, acabou adaptado por todos os contendores.
Na primeira solução, a recolocação da hélice orientada para a traseira obrigou a alterações substanciais na configuração do avião. No caso do de Havilland DH2 que figura nas duas imagens iniciais, o avião não tinha apenas um aspecto frágil: era mesmo frágil! Era um avião que mostrava todas as suas potencialidades sobretudo na primavera e no verão porque nas outras estações fazia mau tempo…

Melhor que o DH2, foi uma solução ensaiada pelos franceses onde se tentava reunir a robustez da configuração tradicional com a recolocação da hélice atrás do piloto, como se pode observar pelas duas fotografias de baixo. Além de outros problemas, o motor entalado ali ao meio, refrigerado a ar e virado para trás, tinha óbvios problemas de refrigeração e revelou-se um fiasco tão grande nos testes que apenas um exemplar (o protótipo) foi construído…
Significativamente, o avião era conhecido por Dufaux, do nome do seu criador, Armand Dufaux. Ora afirmar em francês que algo é du faux quer dizer que é falso, como falsa se revelava a solução proposta pelo construtor para resolver o famoso problema de como disparar frontalmente uma metralhadora quando um avião é movido a hélice. Pelo menos, neste caso, o nome não enganava…

Nota: E um grande agradecimento à Conceição pela consultoria.

2 comentários:

  1. Na 1.ª Grande Guerra a engenharia aeronáutica ainda estava no berço!
    O pano e a tela não podiam compensar o aumento de potência dos motores, com o consequente aumento de peso, e a aerodinâmica era incipiente. Sem uma boa dose de inconsciência ninguém pilotava aviões tão limitados e talvez tenham sido essas limitações que levaram tantos oficiais de cavalaria a trocarem de montada: as quedas estavam garantidas!
    Só não consta que, num regresso às origens, tenham utilizado lanças...

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  2. Devia ser por isso que uma boa parte do processo de formação de pilotos do RFC (Royal Flying Corps - antecessor da RAF) era feita no picadeiro...

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