29 abril 2007

MAMÃ!... MAMÃ!... OLHA SEM CÉREBRO!...

É conhecida a anedota da criança que se põe a fazer acrobacias de bicicleta enquanto chama a atenção da mãe para as suas proezas:
- Mamã!... Mamã!... Olha sem mãos!...
- Mamã!... Mamã!... Olha sem pés!...
- Mamã!... Mamã!...Olha fem dentefff!...

E há ocasiões em que a estupidez parece ser tanta que a melhor maneira que me lembro de a exprimir é a de adicionar uma quarta linha às proezas que a criança quer mostrar à mamã: exactamente a do título deste poste, a propósito de um outro título de um artigo do Diário de Notícias de sábado. É um artigo sobre investigações genealógicas e, como é costume, essas investigações genealógicas esquecem-se sempre da regra da progressão geométrica do número dos nossos antepassados, quando querem arranjar conclusões que impressionem o leitor.

E, contudo, é uma ideia facílima de compreender: cada um de nós tem por antepassados 2 pais, 4 avós, 8 bisavós, 16 trisavós e assim sucessivamente… Quanto mais recuarmos no passado, maior o número de antepassados, até eles se contarem por milhões. Assim, por exemplo, há 20 gerações atrás, por volta do período dos descobrimentos (1500), todos teríamos, teoricamente, 1.048.576 antepassados… Ora, estima-se* que a população portuguesa em 1500 rondaria as 1.250.000 pessoas. E, ainda que possível, não parece provável que todos descendamos de quase todos os portugueses de 1500.

É que importa lembrar que compartilhamos todos aqueles antepassados com os nossos irmãos e metade deles com os nossos primos direitos…No passado, é provável que entre os nossos antepassados tenham havido casamentos consanguíneos, mesmo com parentescos distantes. Entre os actuais descendentes das famílias reais, onde as árvores genealógicas estão mais exaustivamente estudadas, mas onde também imperava uma política de consanguinidade dos casamentos, os antepassados a 20 gerações de distância contam-se, mesmo assim, pelas várias dezenas de milhar.

A minha conclusão é que, com centenas de milhares de antepassados, é muito provável que, recuando no passado, em algum momento venhamos a encontrar algum ascendente que nos conduzirá a alguém importante que, por sua vez, descenderá por via bastarda de um monarca. Sabendo tudo isto, percebe-se melhor a banalidade do título do DN, na sua separata DN Gente de sábado, numa página dedicada à família e às genealogias (p.21): Político e descendente do rei D. Sancho I. O político em questão é (suspeito que não vou surpreender os leitores...) Paulo Portas…

A Genea Portugal, que assina o artigo, conclui nas suas investigações que Paulo Portas é descendente de D. Sancho I e de D. Dinis. Como julgo ter demonstrado acima, não é uma descoberta que possa ser tão rara quanto isso, com o inconveniente de transmitir uma certa impressão de deslumbramento saloio… Nem de propósito, na página anterior (20), aparece uma notícia com fotografia sobre Felipe de Borbon, que deve descender de uma infinidade de reis. Eu, por mim, dou mais valor à carreira de Paulo Portas que à de Felipe de Borbon, mas para quem valoriza essas coisas, e comparado com Portas na página seguinte, ali estará quem tem um pedigree que mete o de Portas num chinelo!

* Atlas of World Population History, McEvedy & Jones.

3 comentários:

  1. Creio que sim!
    Paulo Portas deve descender de um qualquer rei! A consanguinidade não perdoa... e, como descendente de alguém que fez vida na aviação... não augura nada de bom!!!
    A falta de oxigénio e as radiações a que estão sujeitos os indivíduos que voam, deixam sequelas...
    Eu que o diga!!!

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  2. Tendo em conta que a maioria dos portugueses descendende dos primeiros reis, só mesmo por completa snobeira é que se dá uma notícia dessas.

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  3. Conjugada com outra notícia na mesma edição do jornal, em que somos informados que Paulo Portas “não tem nenhum problema” em não pertencer ao Conselho de Estado, que surge sem que mais ninguém tenha levantado a questão da composição actual desse órgão consultivo do presidente, dá para especular sobre qual o ascendente que o noticiado terá sobre certos jornalistas para os fazer escrever sobre trivialidades como se se tratasse de notícias a sério…

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