10 fevereiro 2007

33, 45 ou 78 RPM

Este poste será daqueles um pouco arqueológicos, e está dedicado àqueles que outrora tiveram gira-discos antes deste novo surto revivalista do vinil – adoro esta referência estilizada às antigas tecnologias… – os ter posto outra vez na moda. E creio que todos os que os tiveram, se lembram de uma patilha discreta ao lado do prato, onde se escolhia o regime de rotações por minuto (rpm) a que o prato devia girar.

Nos gira-discos mais antigos, como os parecidos com o da fotografia que encima este poste, a patilha tinha três opções 33, 45 ou 78 rpm. Os discos pequenos (designados por singles) tocavam-se a 45 rpm, os grandes (designados por LPs) a 33 rpm, e as 78 rpm estavam guardados para uns discos misteriosos, doutra geração e pesados como chumbo, que o meu avô me pediu uma vez para ouvir uns, emprestados, num momento raro de convívio entre gerações à volta de um gira-discos…
Com o tempo, acentuando-se a predominância dos LPs de 33 rpm (os cantores já não faziam discos, editavam trabalhos…), os gira-discos mais modernos (como os da geração do da fotografia acima) foram perdendo a terceira opção das 78 rpm, o que foi uma pena para o saudável convívio entre gerações e para as possibilidades de fazer aquela gracinha que voluntária ou involuntariamente aconteceu a todos os proprietários de gira-discos: a de pôr um disco a tocar no regime errado…

Quando reproduzido num regime mais baixo do que o indicado (um disco de 45 rpm tocado a 33 rpm, por exemplo) o som do disco soava distorcidamente grave; no caso inverso (de 33 para 45 rpm) ele tornava-se ridiculamente agudo, e o efeito era ainda mais bizarro quando se experimentavam as 78 rpm. Mas, se tanto tempo perco a explicar esta questão das rotações, é para a enquadrar com as prédicas de Marcelo Rebelo de Sousa, uma pessoa reconhecidamente brilhante.
Sempre que o ouço, levanta-se-me a dúvida se Marcelo será considerado assim tão brilhante pelo conteúdo do que nos transmite, se será pelo regime (a 78 rpm, sem dúvida…) a que nos transmite as suas ideias, a nós, mortais comuns que o escutamos, mas que apenas trabalhamos às 45 rpm – porque os desgraçados das 33 rpm estão sintonizados nas estações concorrentes àquela hora, com certeza… É que normalmente só me apercebo das suas escorregadelas uns três a cinco segundos depois de as ouvir… e às vezes escapam-me de todo!

Já se terá Marcelo apercebido que o You Tube é um meio que não o favorece? O You Tube, como os deslizes da arbitragem no futebol, permite repetições em câmara lenta, para escutarmos mais atentamente o conteúdo das suas afirmações… Um pequeno exemplo retirado do seu primeiro vídeo do Assim Não: Em que aspecto sociológico específico estará Marcelo a pensar quando nos sugere a presença de um sociólogo numa eventual comissão que aconselhasse a grávida na decisão sobre o aborto*?...

*Aos 2m15: (…) Pode abortar porque sim… Tem de ouvir alguém? Não. Não está aconselhamento na lei. Nem psicólogo, nem médico, nem sociólogo, nem ninguém…

2 comentários:

  1. “Aquilo que hoje é verdade, amanhã será mentira!” e vice-versa, acrescento eu.
    Creio que esta frase (de Pinto da Costa?) foi aplicada ao futebol.
    Os políticos serão assim tão diferentes dos dirigentes ditos desportivos?

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  2. Pensando num exemplo como Luís Filipe Meneses a resposta, claramente, é não.

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