30 janeiro 2007

ASTÉRIX E O CALDEIRÃO

Se formos supersticiosos, será talvez por ser cronologicamente o 13º álbum das aventuras de Astérix (1969), que há no conteúdo deste Astérix e o Caldeirão algo de bizarro que faz com que necessite ser classificado separadamente num grupo à parte na distribuição das histórias imortais do pequeno guerreiro gaulês. Lida em sinopse, o início da história da aventura até nem parece distinguir-se do estilo que conhecemos:

Um chefe gaulês de uma aldeia das vizinhanças, Moralelastix, apresenta-se um belo dia na nossa aldeia, pedindo a Abraracourcix para lhe guardar todo o dinheiro da sua aldeia (que recolhera num caldeirão) até à passagem do cobrador de impostos romano. Abraracourcix aceita, nomeia Astérix como guardião responsável, o dinheiro é roubado, e Astérix é banido da aldeia até ter reparado a sua falta, enchendo o caldeirão de dinheiro…

Ao contrário de outras histórias, esta aventura não tem um argumento que permita um nível de leitura superficial que torne a história compreensível para as crianças mais novas: é impossível contá-la sem referir os impostos e o seu cobrador (um tema pouco presente em histórias infantis…) e a descoberta final de toda a trama é feita por métodos indiciários (o cheiro do dinheiro), o que deixa as crianças sem entender porque razão os maus são maus e Obélix lhes bate…
Contudo, possui momentos geniais, como o da representação teatral (pranchas 24 a 28) onde Astérix e Obélix participam, de que várias vezes me vim a lembrar na vida, quando a peça de teatro a que estava a assistir era assim… mais de vanguarda. Valha a verdade que Goscinny pôs o encenador a morrer pela sua arte ao recusar-se a ser libertado pelos gauleses: - Nunca! Acabo de ser contratado para representar em Roma, no Circo. Uma única representação, mas que representação! Com leões e tudo!... Será muito ao vivo.

Mas é de outra passagem de grande qualidade deste álbum que me costumo lembrar quando se invocam a destempo e a despropósito virtudes patrióticas nestas coisas de dinheiro, negócios e aquisições de empresas. Logo na prancha 3, ao ouvir o pedido do seu homólogo para lhe guardar o dinheiro, Abraracourcix manifesta a sua estranheza pelo pedido, visto que Moralelastix tinha a reputação de estar de boas relações com os romanos. Moralelastix indigna-se:

- Não tens o direito de duvidar do meu patriotismo! Eu negoceio com os romanos, seja… mas fiz-lhe sempre pagar o dobro do preço que teria pedido aos gauleses!
- E tu vendes muito aos gauleses? – perguntou Abraracourcix
- Não… os romanos compram-me tudo o que tenho para vender!...

Tivesse a OPA a correr bem a Teixeira Pinto, tivesse ele os meios e a habilidade para contrariar as manobras defensivas da La Caixa e dispensar-se-iam todas estas conferências de imprensa…

2 comentários:

  1. Salvo erro, é nesta obra que surge toda uma série de trocadilhos entre Chou e Sou, ou seja, couve e tostão (digamos assim), resultante do facto de na região os gauleses falarem com o X, como os nossos compatriotas lá de "xima".
    Ah, aquele fabuloso Goscinny!
    Ah, aqueles irredutíveis gauleses que corriam os romanos a toque de La Caixa!

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  2. He he... por estas e por outras o Altermundo está pejado de referências (algumas mais sibilinas, outras mais óbvias) à nossa aldeia gaulesa preferida... Ja agora, caro a. teixeira, onde encontraste a imagem da prancha BD que colocaste no post?

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