01 novembro 2006

A PROVA DE VIDA

A respeito das maneiras como se consegue obter notoriedade conta-se frequentemente a história de Alcibíades que, na Atenas antiga, mandou cortar o rabo do seu cão para que houvesse motivo de conversa a seu respeito. E milénios mais tarde, quando perguntado o que pretendia vir a ser ao jovem Disraeli na Londres do Século XIX, ele respondia sem embaraço: primeiro-ministro.

O que separa (EPC) dos exemplos acima citados – para além do sucesso! - não é a busca de alguma notoriedade, mas a idade com que ainda o faz. Tal qual um pensionista que regularmente faz a sua prova de vida perante a Segurança Social, parece existir uma necessidade – aqui oriunda do pensionista – para que, com uma polémica, demonstre pela referência a si, uma prova de notoriedade.

Fenómenos de ocaso de carreira, tal qual como os programas de TV sobre história de José Hermano Saraiva, a crónica diária do Público de EPC lá continua, em que a audiência de um e os leitores atentos de outra continuam a ser para mim um mistério, porque tenho a impressão que qualquer deles são verdadeiros monumentos à persistência que não à qualidade.

Porque muitas vezes aqueles fenómenos são o resultado, não do valor absoluto das suas ideias, mas da desproporção entre elas e as ambições desmesuradas dos seus autores em manterem-se na ribalta da notoriedade, repetindo-se em sagas consecutivas de mais do mesmo. Neste caso creio ter sido a saga da desconstrução que assumiu uma importância desmesurada na prosa de EPC, quando confrontada com a sua real relevância.

Alguns imitadores irónicos de EPC (e julgo já ter lido vários casos em que isso é feito), conseguem encaixar com mais propriedade na sua prosa a menção ao senhor francês que a inventou – julgo que se chama Derrida – e cuja referência se tornou indispensável e imagem de marca no pedantismo cursivo de EPC, superando mesmo o que o próprio original faz. E com isso atingimos o domínio do patético: quando a imitação, a gozar, parece destronar o original, a sério.

Mas a razão principal de me estar a juntar aqui a um grupo alargado de blogues que deram em falar da cauda capada do cão de Alcibíades, no seguimento de uma crónica sua em que EPC foi desnecessária e grosseiramente grosseiro referindo-se a um par de bloguistas, consiste em assinalar que, pela primeira vez em muitos anos e devido às circunstâncias dos meios de resposta, segui uma das polémicas em que EPC pretende mostrar dar provas de vida intelectual.

Referindo-me a alguém assim tão pedante e com um tal percurso de sabujice (leia-se na sua biografia a sua habilidade para tendo sido da outra, ser desta e com capacidade para ser da próxima...) , seria uma hipocrisia dizer que lamento concluir o que vou concluir, porque não lamento. Mas a verdade é que quanto à tal prova de vida não houve milagre porque não houve ressurreição… Mas registe-se a capacidade que EPC ainda tem para ser levado a sério...

3 comentários:

  1. A meio da década de 80, EPC era um anafado e pomposo Conselheiro Cultural da nossa Embaixada em Paris.
    Na altura, pessoa que bem conheço, trocou com EPC algumas palavras sobre a perda de identidade que representa para os nossos compatriotas o facto de deixarem de saber exprimir-se capazmente na nossa língua.
    Essa pessoa concebeu um projecto (usando o futebol)para tentar ajudar os Portugueses de França a conservar a sua identidade, lendo, ouvindo e falando a língua portuguesa.
    A reacção de Sexa EPC foi que isso seria tempo perdido porque (explicava Sexa) a ordem natural das coisas era os Portugueses se integrarem totalmente e deixarem de falar português.
    Ou seja, deixarem de ser Portugueses.
    Do alto da sua sapiência, deixava entender que deveríamos assistir a este naufrágio da identidade de mais de um milhão de Portugueses, de braços cruzados, indiferentes, no conforto de um gabinete confortável e um gordo cheque no fim de cada mês.
    Amorável EPC !

    NB : EPC não é Escola Prática de Cavalaria...

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  2. Esse episódio que nos relata, paciente inglês – inglês, mas muito conhecedor dos meandros da nossa embaixada em França… - é esclarecedor da razão por que EPC terá ganas de sacar de uma pistola à menção da expressão “dinheiro dos contribuintes”.

    Ele fala, por volumes e volumes – mais do que todas as prosas que EPC tem publicado em jornais de há 30 anos para cá - da sua concepção das funções de um conselheiro cultural PORTUGUÊS em Paris. O cheque gordo serviria sobretudo para a aquisição de livros franceses pelas várias livrarias do Blvd. St. Michel o que, confortando o conselheiro, não entusiasmaria, de certeza, o contribuinte de onde vem o cheque…

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  3. O episódio descrito ocorreu durante o consulado PSD e o embaixador era um homem frontal e caloroso que (ao contrário de EPC) tinha grande orgulho em ser Português.
    Mas, por ser PS não tinha grandes apoios do Governo.

    O seu nome é Luís Gaspar da Silva.
    Foi cônsul em Paris, em 1974/5, e, mais tarde embaixador.
    É justo recordá-lo...

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