15 agosto 2006

O DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO DA ÍNDIA

O discurso do primeiro-ministro indiano Manmohan Singh, pronunciado por ocasião das comemorações dos 59 anos da independência da Índia, terá sido uma desilusão para os reformadores daquele país, se atendermos às notícias aqui veiculadas pelo Financial Times. Claro que conhecer as inclinações ideológicas perfilhadas pelo Financial Times ajudará a decifrar o que aquele jornal entenderá por reformas e por reformadores.

Nos tempos que correm a privatização (alcunhada de liberalização) da propriedade de todos os sectores da actividade económica é assumida axiomaticamente como a atitude evidente a tomar por todos aqueles órgãos que dominam a comunicação social mundial. A unanimidade é tanta, que a adopção de uma atitude distinta daquela faz lembrar a coragem daqueles que em Animal Farm, de Orwell, ousaram desafiar o coro ensaiado das ovelhas.

Sendo a Índia uma democracia, Manmohan Singh é primeiro-ministro de um governo que depende do apoio maioritário no parlamento, onde o seu partido – Congresso – não dispõe de maioria absoluta. A liberdade de acção governativa de Singh está limitada pelos interesses de pequenos partidos marginais e regionais, muitos dos quais oriundos de uma matriz ideológica marxista. Como é o caso de muitas democracias, muitas das decisões governativas têm de ser geradas por consenso.

Por outro lado, como foi muito bem recordado no discurso, apesar de ainda se estar num nível insatisfatório de liberalização na opinião dos reformadores citados pelo Financial Times, a economia indiana tem crescido nos últimos três anos a um ritmo de 8% ao ano, o que é um valor impressionante e impossível de rebater politicamente (a não ser pelos escandalosamente facciosos…). Porquê a premência de introduzir mais reformas? Para que a economia cresça a um ritmo ainda superior?

A decisão de Manmohan Singh – independentemente das razões próximas pelas quais a tomou – é defensável pela perspectiva de evitar que a aceleração do desenvolvimento económico não venha a provocar fracturas na sociedade indiana parecidas às que se adivinham estarem a acumular-se gradualmente na sociedade chinesa, através do crescimento galopante da sua economia, que parece está a acentuar as disparidades sociais e regionais da China.

Registar taxas de crescimento económico de 8%/ano e apelar a uma aceleração nesse ritmo é tão absurdo quanto tentar erradicar a inflação quando ela se situa no 1%. Por isso, como se percebe claramente pelas contradições, apesar de inclusa num jornal como o Financial Times e rodeada por uma data de considerações e análises de cariz económico a fundamentação do que está por detrás do comentário e da crítica do artigo referenciado não tem nada de económico. É política, pura e dura.

É a mesma prática política camuflada de discurso económico que, em Portugal, faz as organizações patronais criticar os governos pela rigidez da legislação laboral que houver na altura, fazendo disso causa para as multinacionais fecharem as suas fábricas cá instaladas, esquecendo-se que quando as ditas multinacionais cá se instalaram a legislação laboral seria, pela sua perspectiva, ainda mais rígida..,

Nota: Deve haver uma qualquer regra não escrita que permite estabelecer a cobertura mediática ajustada a um qualquer acontecimento tomando em consideração a) o número de vítimas e b) a distância geográfica a que ele se verificou.

Tomando como referência a extensa e intensa cobertura dos atentados de Madrid e o número muito aproximado de mortos ali registados em comparação com os de Bombaim é necessário alertar, pela cobertura medíatica dada aos dois acontecimentos, que a Índia fica apenas do outro lado do Mundo, não na face escondida da Lua...

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