27 abril 2006

A LÓGICA

A Lógica é aquela área do saber que era (é?) dada, tanto em matemática, como em filosofia, mas que numa maioria de casos se aprendia (?) marrando os exemplos e esquecendo-os depois. Apostaria que haveria imensas recusas ao desafio de recordar e distinguir o que é uma aplicação injectiva e uma aplicação sobrejectiva (professores de matemática excluídos, bem entendido!).

Menos hermético, o desafio à desmontagem pela explicação da falha lógica do silogismo que se segue, também não deve entusiasmar muitos adeptos:

a) Todos os cães têm quatro patas
b) O meu gato tem quatro patas
c) Portanto, o meu gato é um cão.

Ora a lógica (e a falta dela) até tem bastante aplicabilidade nos assuntos do quotidiano. Senão vejamos. Todos sabemos que há entre os artistas verdadeiramente excepcionais, alguns que têm características e comportamentos mais bizarros. Acho que nem vale a pena dar exemplos, mas são pormenores que se suportam dada a qualidade do artista.

O grande erro lógico aparece quando, simplificadamente, lá porque todos os génios são bizarros, se pressupõe, mal, que todos os bizarros têm de ser génios. E, em consequência, há uma data de artistas medianos que, por causa de terem um certo estilo, se vêm projectados ao estatuto de ídolo, sem que isso tenha a ver com a qualidade do seu desempenho enquanto artista.

A propósito da despedida de Sá Pinto – e o futebol é um caso onde há, literalmente, milhares de ídolos medianos, cheios de estilo, como ele – as lamúrias que se ouvem e se lêem de adeptos do Sporting a propósito do término antecipado da sua carreira são, mesmo para assuntos de futebol, perfeitamente incompreensíveis.

Em primeiro lugar porque um jogador é pago para jogar futebol e se se deixa expulsar por mandar bocas a um árbitro, mesmo a um mês de terminar a carreira, continua a ser um mau profissional até ao fim. Depois, como ser humano, Sá Pinto continuará sempre com a nódoa da agressão ao seleccionador nacional da qual, creio, nunca se desculpou.

Por isso, desculpar-me-ão alguns adeptos sportinguistas mas não tenho nenhum pesar em ver Ricardo Sá Pinto abandonar a actividade. E se o faz prematuramente só a si se pode culpar. E isto são evidências que valem muito mais do que algumas exuberâncias em campo - que lhe valeram, de resto, várias expulsões.

Suspeito que me dirão que isto é futebol e que um adepto de futebol não é sensível à lógica. Mas este é um assunto que precisa mais do que lógica, também inteligência e argúcia. E o animal que simboliza o Sporting é o leão, não o boi…

3 comentários:

  1. Admito que o seu juízo esteja correcto, mas a linguagem é excessivamente contundente.

    Quanto à agressão ao seleccionador
    É certo que Sá Pinto nunca pediu desculpa a Artur Jorge. Mas este, por seu lado, começou por não reagir (fisicamente) à agressão. Comeu e calou.
    Depois, andou meses a ameaçar processar Sá Pinto. Nunca o fez.
    Admitiu desculpar o jogador se ele lhe pedisse desculpa, coisa que Sá Pinto jamais fez.
    No final, nem desculpas nem processo.
    Consta que reataram um relacionamento distante.

    Por que motivo Artur Jorge fez tão triste figura e se confinou ao papel de virgem ofendida?

    Alguém acredita que Sá Pinto tenha feito o que fez sem motivos?

    Eu não.

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  2. Boi ... Cota

    Admito que a minha linguagem tenha sido excessivamente contundente na descrição de um jogador que é excessivamente contundente... e não só na linguagem.

    Confesso-lhe que me escapam as especulações sobre o que estaria por detrás do gesto de Sá Pinto. A muita gente, em muitas circunstâncias apetecer-lhe-ia bater em alguém; mas não batem! Mas nem é isso que está em causa...

    Acha-se Sá Pinto merecedor de ombrear com todas as outras figuras emblemáticas do Sporting?
    Querem fazer dele um exemplo?
    É o que parece, falando-se da sua raça de leão...

    Obrigado pela visita e pelo debate.

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  3. Concordo completamente consigo António Cagica Rapaz nos exemplos que menciona.

    Mas relevo nos casos de que fala o lado religioso/espiritual da questão.

    É uma prática portuguesa socialmente entranhada o elogio e a protecção da memória dos mortos, que impede que lhes seja feita qualquer alusão menos favorável.

    Exemplo: alguém aprofundou mais algumas circunstâncias, às que se sabem (despiste às 4 da manhã), em que ocorreu o acidente que vitimou o actor da novela da TVI?

    E, posto de uma maneira cínica, não parece que Sá Pinto esteja para morrer para tanta homenagem...

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