04 abril 2006

A INTIF(OLH)ADA

Quotidianamente, perto de nossas casas, anda a travar-se uma guerra de guerrilha, discreta, oculta, desapercebida, longe dos olhares da comunicação social mas não menos atribulada por isso.

As vítimas são as triviais caixas de correio do humilde cidadão que, para além do vulgar correio ordinário – o registado tem que se ir buscar normalmente à estação – estão sujeitas ao bombardeamento sucessivo e consecutivo de prospectos, promoções, participações, pseudo jornais, boletim municipais, folhetos de campanha eleitoral e um sem fim de outros adereços que as entopem até sufocar.

Há já quem tenha feito um inventário, ao fim de um ano, de toda a … que lhe foi despejada ranhura abaixo. Eu, que li o artigo e não gostei da descrição, tenho um daqueles autocolantes que pedem, com muito bons modos, para não porem ali lixo: “Publicidade não endereçada: aqui não obrigado!”

O truque consiste em fazer a distribuição recorrendo a analfabetos funcionais, pouco sensíveis a cortesias, ou então a contra argumentar que o que estão a distribuir não é publicidade, mas sim um jornal (que não estou interessado e nunca pedi para ler): A Dica da Semana.

Tenho sob esse aspecto a postura muito conservadora de que compete ao consumidor informar-se sobre o que lhe interessa consumir. Tenho uma relutância imediata a quem me aborda pessoalmente, por telefone ou por escrito, alertando-me para uma promoção que me deve interessar, de certeza, mas que eu desconhecia.

Não concebendo o mundo como um sítio intrinsecamente mau, acho razoável desconfiar de tanto altruísmo e de tanta preocupação com a minha pessoa. Que é que eles podem saber mais das minhas necessidades que eu não saiba?

Permanece e permanecerá para mim sempre um mistério aquela pessoa que, assistindo a um TV Shop, descobriu, subitamente, a necessidade daquele aspirador-que-descaroça-mangas-e-também-trata-das-unhas-dos-pés. E eles existem, de certeza, senão os programas não iam para o ar…

Mais uma sugestão apenas: porque não obrigar os promotores dessa publicidade papeleira a reciclarem, obrigatoriamente e por sua conta, um volume de papel usado equivalente ao da campanha que nos despejam na caixa do correio?

A ideia é razoável, é implementável, e é amiga do ambiente. Ou isso, apesar da amizade ao ambiente, não é uma medida do tipo de amizade que a Quercus goste de cultivar?

4 comentários:

  1. Concordo em absoluto com a sua argumentação. Só não gostei do "implementável". Que tal um "realizável" ou "fazível" ?

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  2. Calma!
    E se a Quercus se lembra de, após a reciclagem, e para demonstrar que foi bem sucedida, nos enfiar ÁRVORES pela caixa do correio?
    É que estes rapazes, às vezes, não se enxergam...

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  3. Sou bem capaz de compreender, purista, a sua relutância ao termo “implementável”. Mas eu preferiria um outro termo, em alternativa às suas duas propostas, menos activo mas que evidenciasse mais a capacidade e a importância de se fazer cumprir a legislação que é aprovada. Talvez aplicável?

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  4. Perdoe-me o cinismo, impaciente português, mas esta parece-me ser uma das tais causas em que não vejo maneira de “pingar” alguma coisa para a Quercus e por isso desinteressante.

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