17 março 2006

EUROSONDAGENS

Já lá se vão, ao longe, a campanha e as eleições presidenciais e já parecem esquecidos alguns incidentes ocorridos durante a dita, não fora ter outro dia aparecido uma sondagem a respeito de já não sei de quê, efectuada pela empresa Eurosondagem.

É sabido o destaque da referida empresa durante aquela campanha eleitoral, pela oportunidade e conteúdo dos resultados que ia produzindo que depois, não se vieram a verificar no dia das eleições – Soares, o pretenso challenger, ficou num humilhante terceiro lugar a quase sete pontos percentuais de Manuel Alegre.

É incontável o que já se escreveu sobre sondagens e arrisco-me mesmo a afirmar que haverá sempre mais qualquer coisa a dizer a esse respeito. Mas nunca será inútil realçar, uma vez mais, algumas evidências.

A primeira é que os clientes da maioria das sondagens que conhecemos – os que as pagam – são os órgãos de comunicação social. Se as empresas de sondagens quiserem facilitar – para agradar ao cliente – será àqueles, não ao público.

A segunda, decorrente da anterior, é que reside na empresa de sondagens o maior interesse em preservar a sua credibilidade. Ao cliente, poderá interessar dar realce ao lado mais inédito ou espectacular da informação obtida. Se, no processo, a empresa em questão se queimar, sempre poderá haver outro fornecedor na próxima oportunidade.

A terceira, prende-se com a fragilidade da informação obtida, como Pedro Magalhães está farto de frisar no seu blog. Nunca há garantia de existir uma resposta para a pergunta que se colocou.

Em complemento, o mesmo Pedro Magalhães tem alertado, quem o lê, para a ocorrência de diversos fenómenos de distorção não deliberados, mas também para técnicas de os controlar, identificar e corrigir.

De tudo isto acho que se consegue extrair a conclusão segura, mesmo para qualquer leigo, que ainda há muito de subjectivo na forma como se apresentam os resultados finais.

Já se ultrapassou há muito a subjectividade óbvia e a bronca das eleições legislativas de 1985 quando o analista em estúdio na (única) RTP se enganou redondamente nas previsões dos resultados finais de quase todos os partidos porque se recusou a acreditar nos resultados das freguesias tipo que estava a receber.

Mas, mesmo assim, nas últimas eleições presidenciais só os resultados das sondagens do centro da U. Católica (que, aliás, Pedro Magalhães dirige) conseguiram transmitir o calafrio – ao não dar a certeza da vitória – que se deve sentido na candidatura de Cavaco Silva, ao constatarem que os resultados do escrutínio estavam a levá-los para as zonas da indecisão. Nos outros casos, Cavaco ganhava de caras.

Regressando à Eurosondagem, a verdade é que não tenho memória de nenhuma análise contrita sobre o que terá falhado para que nos resultados das sondagens a candidatura de Mário Soares superasse regularmente a do seu mais directo rival, Manuel Alegre, até uma altura em que se viu na situação de ser a única empresa a apresentar tais resultados.

Pode ser que me tenha distraído e a tal análise me tenha escapado. Pode ser que se tenha decidido não se dar publicidade ao gesto da tal reflexão interna, o que também acho natural se assim tiver sido feito. Afinal, se os seus clientes ficarem satisfeitos, tudo está bem.

Mas também acho natural que as pessoas que dirigem a Eurosondagem, nomeadamente Rui Oliveira Costa, que mais tem dado a cara mediaticamente por ela, não se surpreendam que eu e possivelmente muitos como eu consideremos, depois de tudo o que aconteceu, que há sondagens… e eurosondagens…

2 comentários:

  1. Excelente texto. Já ninguém se lembra, de facto, das reacções ofendidas de Rui Oliveira e Costa quando a candidatura de Manuel Alegre questionou a credibilidade das sondagens da Eurosondagem, com a "ameaça" de um processo!

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  2. Sou um fanático das sondagens mas, a idade já me ensinou algo: quando as fizerem, se encontrarem petróleo, chegam-me 5%!
    As margens de erro levam-me a concluir (com pouca margem de falha!) que, se um dia, encontrarem esse líquido, preto e viscoso, nalguma sondagem "off-shore"... vamos pagar a gasolina muito mais cara!!!
    As outras, as encomendadas, dispenso: não chego para as encomendas!

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