17 dezembro 2005

O ALFREDINHO

Alfredo Marceneiro foi uma das maiores glórias do fado lisboeta, naquela época em que Amália cantava mesmo muito bem, antes de se tornar num ícone e muito antes de se tentar fazer pegar uma moda que me parece insuportavel e desnecessariamente petulante de a tratar por Senhora Dona Amália.

Entre os atributos distintivos de Alfredo Marceneiro, um castiço do fado, constava um falar precisamente castiço, o seu eterno lenço (como se pode ver na fotografia anexa) e a irreprimível tendência para, quando estava a ser entrevistado, procurar dar sempre, calhasse ou não, mais um empurrãozito à carreira do filho, o Alfredinho, que era muito jeitoso.

Aquele amor paterno sempre se mostrou muito superior aos talentos demonstrados pelo Alfredinho, e seria por causa dele que as promoções do pai Alfredo eram comentadas muito discretamente, ninguém quereria fazer um comentário antipático a uma intenção tão nobre.

Passaram mais de quarenta anos, mas é aquele episódio, ao mesmo tempo notável e ridículo, do Alfredinho que se vai buscar a inspiração para apreciar a cobertura que Mário Soares tem dado à carreira política do filho João. Depois de Lisboa, depois de Sintra, quando será a vez de João experimentar concorrer à outra Câmara Municipal onde o pai tem casa – Portimão?

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