24 novembro 2005

DESTA VEZ DISCORDO DO GURU

O guru é José Pacheco Pereira. E não se julgue que o emprego da palavra guru tem algo de depreciativo. Muito pelo contrário, é com respeito que uso o termo, considero que só se é guru por mérito, não o é quem o quer.

O seu texto de hoje no Público, é fortemente condenatório do discurso de Freitas do Amaral a propósito da situação embrulhada que se vive no seio da União Europeia para a aprovação do orçamento comunitário. Por coincidência, um tema que ainda ontem abordei num poste chamado Um desafio a Aécio.

Titulado A ofensiva portuguesa contra o Reino Unido – um bom título, mas parece pôr as relações luso-britânicas numa antecâmara parecida com aquelas que vigoram actualmente entre os Estados Unidos e a Venezuela – e salvaguardando a dificuldade de sintetizar um texto denso e bem estruturado, como costumam ser os de José Pacheco Pereira, é possível desdobrá-lo num primeiro terço, onde se comenta o que foi dito, o estilo em que foi dito, a legitimidade de quem o disse e as suas consequências, a que se segue todo o resto, onde se esmiúça porque é que foi dito.

Para Pacheco Pereira, Freitas do Amaral é um europeísta extremista mas consequente. Ou seja, visto da sua perspectiva, Freitas está do outro lado da barricada. Globalmente, simplificado o assunto a barricadas, a minha será a mesma barricada de Pacheco Pereira, só que não posso acusar Freitas de estar a pensar mal quando considera que o Reino Unido é um entrave à concepção que os franco-alemães querem dar à União, muito embora não concorde com essa concepção. Muito menos concordo que ele esteja a assumir as penas de defender a posição francesa quando censura a passividade britânica em todo o processo de aprovação do orçamento – ou será que, em simetria, Pacheco Pereira não ficaria incomodado se o acusassem de ser um enfeudado aos britânicos por ter criticado Giscard d´Estaing, como aliás já o fez?

Objectivamente, as criticas à forma como o Reino Unido está a exercer a presidência por parte de Freitas do Amaral fazem todo o sentido, da mesma forma que as críticas de Pacheco Pereira à forma como foi elaborado o projecto de Tratado constitucional da União também o fizeram. É bem verdade que o segundo não é Ministro dos Negócios Estrangeiros como o é o primeiro, e aí é capaz de residir uma substancial parte da razão que possa dar a Pacheco Pereira, muito embora seja de opinião que o bom comportamento na União não se tenha vindo a revelar substancialmente remunerador – Portugal não parece ter sido destacadamente mais favorecido do que a Grécia, por exemplo.

Paradoxalmente, creio até que há maior proximidade de interesses entre Reino Unido e França, do que entre Portugal e qualquer deles – ambos preferem preservar o status quo a devolver o cheque ou a modificar a PAC. O resto, num artigo onde se faz aquilo que costuma ser de bom tom dizer que não se faz (processos de intenções) parece mais destinado à disputa política interna.

Ontem esqueci-me de referir, mas importa relembrar que Portugal dispõe de um prestigiado Presidente da Comissão que, no meio de isto tudo, não toca na chincha.

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